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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Passos de um vencedor

Matéria publicada pela APO Associação Paranaense dos Ostomizados, em abril de 2012.

ESPECIAL: Passos de um vencedor

Colostomizado desde o final de 2010, Alessandro Calvete Nuñez, de 39 anos, encontrou no esporte a força e disciplina para adaptar sua vida após a cirurgia. Natural de Porto Alegre, mas morando em Curitiba desde os seis meses de idade, o engenheiro e eletricista dedica boa parte do seu tempo a treinamentos e competições de triathlon, modalidade esportiva que combina natação, corrida e ciclismo. No início de março (4), o atleta participou pela primeira vez como ostomizado da do Sesc Triathlon Circuito Nacional, etapa Caiobá, a mais tradicional prova da modalidade no Brasil.

Por Gabriel Sestrem


Como foi o impacto após a cirurgia da ostomia? 
Quando soube foi um baque, mas a partir desse momento tentei buscar entender do negócio. Fui atrás, busquei conhecimento, descobri muitas coisas. No tempo pré-operatório, estava na internet bus­cando saber mais e achar soluções para essa nova condição, o que me ajudou muito. Descobri atletas de outros países que são ostomizados e me inspirei neles. A internet é uma boa dica para os ostomizados encontrarem conhecimento e inspiração em pessoas que venceram a ostomia e outras complicações.


Hoje você consegue levar uma vida normal? 
Eu adaptei minha vida. Ela ficou normal, mas tive que adaptá-la. O segredo é não se entregar, mas é preciso repensar uma série de coi­sas para viver da melhor maneira possível. Quanto ao meu dia a dia, se eu for fazer irrigação, por exemplo, ela me toma uma hora e meia. Então achei um horário melhor para não prejudicar as outras atividades. Se eu tiver que sair, preci­so me adaptar. Se precisar treinar cedo, acordo de madrugada para dar conta de tudo. Quando voltei a nadar, por exemplo, precisei de uma adaptação, fiz um cinto e quando vou praticar esportes ou vou para a praia, uso o obturador (pequena tampa para os estomas). 
Tem tantas outras limitações que necessitam de muito mais cuidados, que com força de vontade é possível superar muita coisa. Só não pode se incomodar com o que os outros estão pensando.























Alessandro com a esposa Ana Paula, filha
Kauana (de capacete) e sobrinha

Quais os cuidados na alimentação? 
Busco conhecer os alimentos que estimulam ou não o intestino. Eu não deixo de comer o que gosto, mas não toda hora como antiga­mente. Alguns alimentos prendem mais o intestino, outro não.       

Lembra de algum fato marcante no curto período de colostomiza­do? 
Recordo uma vez que tive que me preparar para uma prova do Metropolitano de Mountain Bike na cidade de Balsa Nova-PR. Como é uma prova longa, é necessário alimentação e hidratação adequa­da antes e durante a prova para aguentar. O percurso era difícil, tinha muitas subidas e montanhas. Precisei comer muitas coisas durante a prova e, como fazia poucos meses da cirurgia, não sabia como iria reagir. Não estava de obturador, estava de bolsa. Durante a prova, um amigo precisou ir ao banheiro, e como não havia banheiro no lugar, foi no mato mesmo. Ao final da prova, ainda na euforia, gritei para ele que se me desse uma dor de barriga, não precisaria ir no mato, eu tinha meus próprios meios. (risos) Outro fato marcante foi na Volta Ciclística das Nascentes, competição em equipe que disputei com mais dois amigos, na qual conquistamos o quarto lugar. Foi a primeira conquista três meses depois da cirurgia.


Existe algum preconceito com a condição de ostomizado? 
Não senti nenhum preconcei­to. Tenho um ciclo de amizades muito bom. Tudo o que fazíamos, continuamos fazendo. As pessoas até esquecem que uso uma bolsa. A disciplina do esporte me ajudou a entender minha nova condição e hoje tiro de letra. Não saio divulgando para todo mundo. As pessoas próximas sabem que sou ostomizado, mas não vejo nenhum problema em esconder. 
Percebo que o preconceito vem do próprio ostomizado. Eu não sofro preconceito porque não tenho preconceito comigo. Nunca fui a um lugar que me tratassem mal. Hoje o cidadão é consciente.


Como você vê os portadores de ostomia? 
Faz pouco tempo que sou osto­mizado e não conheço um grande número de portadores de ostomia. Mas no que vejo na internet, nas conversas, vejo que muitos são fechados, retraídos, desanimados e sem força para lutar. Não é porque trocamos um órgão de lugar que vamos nos entregar. 
Há uns dias estava dirigindo e comecei a observar um cego enfren­tando o trânsito. A situação dele é muito pior que a minha, mas ele estava enfrentando. Tenho amigos paraplégicos que viajam, vão para todos os lugares, fazem tudo, não ficam em casa desanimados.


Como o esporte começou a fazer parte da sua vida? 
Sou amante do esporte. Como esportista amador sempre tive mi­nha rotina de trabalho, mas fiz na­tação, academia, surfe e uma série de esportes. Por incentivo de um amigo, há seis anos, comecei a fa­zer algumas provas de triathlon, me envolvi com alguns colegas que já praticavam e comecei a fazer algumas provas curtas. Em pouco tempo comecei a competir em ca­tegorias amadoras. Hoje faço triathlon normal (short), que são dis­tâncias curtas. Antes de descobrir que estava doente, ia começar a fazer Iron Man, que é uma modali­dade do triathlon de longas distân­cias. Minha meta agora é começar esta modalidade em 2014.


Hoje você compete em que ca­tegoria? 
Sempre pelas categorias amado­ras e em minha faixa etária. Comecei correndo na categoria 30 a 34 anos e hoje estou na categoria 34 a 39.

Como foi a prova em Caiobá? 
O Sesc Triathlon - Circuito Na­cional de Caiobá - é um short tria­thlon, no qual foram percorridos 750 metros a nado, 20 quilômetros de bicicleta e cinco quilômetros de corrida. Já havia feito cinco edições da prova. Só falhei no ano passado, quando estava no período de tratamento da ostomia. Agora, no meu retorno, na minha concepção fui muito bem pois venci minha nova limitação, ainda que, em termos de tempo e colocação, não tenha sido o que esperava. De 1.033 atletas, alcancei o 470º lugar. 
Vejo que o retorno, com a carga pesada do tratamento que passei e a nova condição de ostomizado, não poderia ter sido melhor. Rever os amigos, participar da prova e completá-la debaixo daquele calor que estava foi muito prazeroso. 
Vale lembrar que a Coloplast me ajudou com a inscrição na pro­va e hospedagem. Numa quarta­feira, encontrei o pessoal na sede da APO, falei que ia participar da competição, pedi uma ajuda e eles aceitaram. Competi com a logo­marca da Coloplast no meu maca­quinho, que foi adaptado para usar com a bolsa e com o obturador.


2 comentários:

  1. JOSIANE BORTOLON DE BEM1 de maio de 2013 às 11:46

    sou tecnica de enfermagem e ostomisada a 4 anos. aprendi muito com a doença,pois cada caida qe tive foi um aprendizado e vivo uma vida normal. trabalho e sou feliz e vivo pelo meu filho qe é a minha força de viver. JOSIANE BORTOLON DE BEM...

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    1. Josiane obrigada pela visita!!!!!
      Continue sempre com essa garra e vontade de viver!!!!!
      Bjs

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