Christiane e Cláudia
Yamada
Ser idoso, não é ter
somente limites, mas aprender a conviver com esses limites, e mesmo tendo a
idade avançada e apresentando as características da velhice, tentar ser ativo e
participativo.
O surgimento de algumas
alterações funcionais ou estruturais pode representar para os idosos uma ameaça
ao seu bem-estar e a sua auto-estima, refletindo diariamente no seu convívio
consigo e com a sociedade.
Em algumas situações do
envelhecer, as alterações fisiológicas podem unir-se a algumas doenças e
acarretar o surgimento de processos cirúrgicos, como por exemplo, as cirurgias
intestinais ou urinárias, que dão início a um processo de vida diferente pelo
uso da bolsa coletora de fezes ou urina, direcionando o idoso a uma constante
adaptação.
A maioria dos indivíduos,
após a realização da ostomia, vivencia os estágios emocionais de negação, ira,
barganha, depressão e aceitação. O pessimismo também se faz parte, devido aos
sentimentos de baixo auto-estima e desânimo diante das dificuldades.
A
estomização pode trazer incerteza à pessoa idosa, por conta das mudanças que
ocorrem em seu corpo e das novas responsabilidades que surgem com a ostomia. Os
pacientes idosos geralmente necessitam de auxílio para manusear o equipamento e
de estímulo para realizar a limpeza da pele periostomal, devido ao grau de
diminuição da visão, dificuldade auditiva e a dificuldade com habilidades que
requeiram coordenação motora.
Alguns idosos têm uma
percepção negativa de si, por se visualizarem como pessoas incapacitadas e,
assim, podem não se aceitar como ostomizado, pois ele acha que não poderá
participar ativamente das atividades sociais e, com isso, se sente inválido e
dependente do outro, e acabam preferindo a morte à ostomia.
Além de, muitas vezes, ele
mesmo se sentir no final de sua caminhada, sem esperança para viver ou ser
feliz. Visto sob esse aspecto, o idoso ostomizado necessita de serviços de
saúde especializados, que forneçam informação, suporte técnico e emocional
adequados, por isso, é importante informar-lhes sobre a existência de um
serviço de estometerapia.
A não-aceitação, por parte
do idoso ostomizado da sua condição de saúde, pode levar, à negação dos
problemas e à rejeição do tratamento, muitas vezes, pelo constrangimento
imposto por sua situação, ou por possíveis complicações, resultando em um
agravo que poderá se tornar irreversível. Cabe ao profissional de saúde
esforçar-se para fazer com que essas pessoas tenham a devida adesão ao
tratamento e que essa visão distorcida seja transformada.
É necessário proporcionar
ao idoso ostomizado, novas formas de adaptação; mostrando a sua importância
como cidadão, que ele pode ser ativo e detentor de uma grande experiência de
vida e que esta vida após a cirurgia não acaba, apenas recomeça uma nova, com
outros desafios que, se aprendidos, deixam de ser desafios.
É preciso ajudá-lo a não
se sentir o único, a buscar apoio nas pessoas que passaram pela mesma situação,
para adaptar-se ao seu novo estado. Estimulá-lo à participação em grupos, que
proporcionem a oportunidade da discussão, da troca de experiências e o
direcionem a uma vida mais feliz e mais plena.
A participação do idoso
nos grupos de apoio torna-se necessária, pois serve de abertura à discussão e o
reconhecimento de seu espaço na sociedade, ajudando-o a adquirir autonomia para
transformar sua realidade. Além de contribuir na promoção, na proteção e no
controle das situações estressantes causadas pela doença, originando um espaço
complementar de troca de informações e de estimulo social.
O idoso ostomizado, que
participa de um grupo, poderá ser capaz de tornar-se agente de seu cuidado,
passando a se autocuidar com mais segurança.
Nesse momento, o apoio da
família é muito importante no processo de adaptação ao estoma e à nova vida,
auxiliando no cuidado específico, porém, quando os idosos se submetem à
realização de uma ostomização, muitas vezes os seus familiares não aceitam a
situação e ficam com medo no cuidado do estoma. Na ausência de um familiar, é
importante que uma pessoa de confiança do paciente esteja presente durante o
processo do cuidado.
Cuidar do idoso
ostomizado, com suas limitações, significa estimulá-lo ao autocuidado, à
autodeterminação e a sua independência frente às escolhas que necessita
realizar junto à sociedade e sua família. Além de compreender as suas
limitações, e possibilitar a reintegração social, permitindo-lhe uma melhor
aceitação da sua nova imagem corporal e melhor entendimento da nova situação.
A reabilitação do
ostomizado visa a restituir-lhe as atividades de convívio social e melhorar sua
qualidade de vida diante do impacto da aquisição do estoma. Esse momento
caracteriza-se por uma primeira etapa, na qual transcorre a aceitação do estoma
pelo idoso e, com isso, ele necessita entender que o estoma foi confeccionado
com o intuito de preservar sua saúde.
Uma estratégia de reabilitação para o idoso
ostomizado, é fazê-lo perceber que não está sozinho e compartilhar as
experiências e as transformações em suas vidas; e uma outra alternativa é estimular
a mudança de atitude e reinserção dele no meio familiar e social.
Ensinar a conviver com a
ostomia é um processo multidimensional, abrangendo não só os idosos, mas sua
família, sem contar a necessidade de estimular diariamente à promoção de
qualidade de vida.
Muitas vezes, o idoso
ostomizado apresenta dificuldades no manuseio dos acessórios de cuidado com
estoma, seja por déficit motor, seja por receio ou por compreender a
estomização como uma etapa complicada ou complexa em sua vida, por isso, é
importante a presença de um familiar ou amigo para auxiliá-lo no cuidado ou na
manutenção de sua autonomia.
Muitos
idosos, apesar de realizarem suas atividades diárias sem necessitar de auxílio,
apresentam dependência no cuidado com as ostomias. Isso pode ser por causa da
família ou do próprio idoso em acreditar que um idoso doente se torna incapaz
ou não é apto para realizar seu cuidado, e o cuidado superprotetor pode
torná-lo cada vez mais dependente. É importante lembrar que é necessário um
determinado tempo para que os idosos se adaptem com os cuidados e com a
ostomia.
Os
cuidados empregados com a bolsa e com a pele peri-estomal são importantes, pois
os produtos usados na manutenção da ostomia e a prevenção das complicações
auxiliam na qualidade de vida do idoso ostomizado. Devido às mudanças que
ocorrem com o avançar da idade, a pele e o tecido subcutâneo tornam-se finos, e
a pele se irrita com mais facilidade, gerando uma maior preocupação quanto ao
cuidado com a pele no idoso ostomizado.
As dificuldades do ostomizado
idoso e seus familiares para continuidade do cuidado após a alta hospitalar,
ocorrem em todos os aspectos, sejam físicos, emocionais ou sociais, tanto da
sua vida como da família. Por isso, é importante que uma pessoa capacitada, no
caso o enfermeiro, de orientações sobre: o processo de adaptação e uso da bolsa
coletora, o cuidado com a ostomia e com a alimentação adequada, além de encaminhá-lo
e estimulá-lo a participar de um grupo de apoio, que possa ajudar os ostomizados
a conviverem com esta nova situação.
O ostomizado precisa
adaptar-se a essa nova situação em busca da harmonia e da restauração das suas
forças, pois a diminuição da autoestima faz com que alguns ostomizados
retraiam-se e busquem o isolamento como forma de autodefesa, provocando
alterações de ordem física, psicológica, social e espiritual, além de
alterações na sua imagem corporal, fazendo com que eles necessitem de cuidados
específicos para conseguirem sua reinserção social.
Os processos de
auto-estioma, autocuidado e auto-organização são possíveis, quando o idoso ostomizado
identifica sua posição de importância junto aos demais ostomizados e sua
família, e quando ele se sente acolhido e mais seguro para desempenhar os
cuidados aprendidos.
A aceitação do estoma pelo
idoso, apesar da falta de conhecimento e medo inicial, surge do convívio com
outros ostomizados, do incentivo recebido pelo serviço de estomaterapia e da
presença dos familiares e amigos, ajudando-os no enfrentamento.
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