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sábado, 14 de janeiro de 2012

Ostomia na terceira idade


Christiane e Cláudia Yamada

Ser idoso, não é ter somente limites, mas aprender a conviver com esses limites, e mesmo tendo a idade avançada e apresentando as características da velhice, tentar ser ativo e participativo.

O surgimento de algumas alterações funcionais ou estruturais pode representar para os idosos uma ameaça ao seu bem-estar e a sua auto-estima, refletindo diariamente no seu convívio consigo e com a sociedade.

Em algumas situações do envelhecer, as alterações fisiológicas podem unir-se a algumas doenças e acarretar o surgimento de processos cirúrgicos, como por exemplo, as cirurgias intestinais ou urinárias, que dão início a um processo de vida diferente pelo uso da bolsa coletora de fezes ou urina, direcionando o idoso a uma constante adaptação.

A maioria dos indivíduos, após a realização da ostomia, vivencia os estágios emocionais de negação, ira, barganha, depressão e aceitação. O pessimismo também se faz parte, devido aos sentimentos de baixo auto-estima e desânimo diante das dificuldades.

A estomização pode trazer incerteza à pessoa idosa, por conta das mudanças que ocorrem em seu corpo e das novas responsabilidades que surgem com a ostomia. Os pacientes idosos geralmente necessitam de auxílio para manusear o equipamento e de estímulo para realizar a limpeza da pele periostomal, devido ao grau de diminuição da visão, dificuldade auditiva e a dificuldade com habilidades que requeiram coordenação motora.

Alguns idosos têm uma percepção negativa de si, por se visualizarem como pessoas incapacitadas e, assim, podem não se aceitar como ostomizado, pois ele acha que não poderá participar ativamente das atividades sociais e, com isso, se sente inválido e dependente do outro, e acabam preferindo a morte à ostomia.

Além de, muitas vezes, ele mesmo se sentir no final de sua caminhada, sem esperança para viver ou ser feliz. Visto sob esse aspecto, o idoso ostomizado necessita de serviços de saúde especializados, que forneçam informação, suporte técnico e emocional adequados, por isso, é importante informar-lhes sobre a existência de um serviço de estometerapia.

A não-aceitação, por parte do idoso ostomizado da sua condição de saúde, pode levar, à negação dos problemas e à rejeição do tratamento, muitas vezes, pelo constrangimento imposto por sua situação, ou por possíveis complicações, resultando em um agravo que poderá se tornar irreversível. Cabe ao profissional de saúde esforçar-se para fazer com que essas pessoas tenham a devida adesão ao tratamento e que essa visão distorcida seja transformada.

É necessário proporcionar ao idoso ostomizado, novas formas de adaptação; mostrando a sua importância como cidadão, que ele pode ser ativo e detentor de uma grande experiência de vida e que esta vida após a cirurgia não acaba, apenas recomeça uma nova, com outros desafios que, se aprendidos, deixam de ser desafios.

É preciso ajudá-lo a não se sentir o único, a buscar apoio nas pessoas que passaram pela mesma situação, para adaptar-se ao seu novo estado. Estimulá-lo à participação em grupos, que proporcionem a oportunidade da discussão, da troca de experiências e o direcionem a uma vida mais feliz e mais plena.

A participação do idoso nos grupos de apoio torna-se necessária, pois serve de abertura à discussão e o reconhecimento de seu espaço na sociedade, ajudando-o a adquirir autonomia para transformar sua realidade. Além de contribuir na promoção, na proteção e no controle das situações estressantes causadas pela doença, originando um espaço complementar de troca de informações e de estimulo social.

O idoso ostomizado, que participa de um grupo, poderá ser capaz de tornar-se agente de seu cuidado, passando a se autocuidar com mais segurança.

Nesse momento, o apoio da família é muito importante no processo de adaptação ao estoma e à nova vida, auxiliando no cuidado específico, porém, quando os idosos se submetem à realização de uma ostomização, muitas vezes os seus familiares não aceitam a situação e ficam com medo no cuidado do estoma. Na ausência de um familiar, é importante que uma pessoa de confiança do paciente esteja presente durante o processo do cuidado.

Cuidar do idoso ostomizado, com suas limitações, significa estimulá-lo ao autocuidado, à autodeterminação e a sua independência frente às escolhas que necessita realizar junto à sociedade e sua família. Além de compreender as suas limitações, e possibilitar a reintegração social, permitindo-lhe uma melhor aceitação da sua nova imagem corporal e melhor entendimento da nova situação.

A reabilitação do ostomizado visa a restituir-lhe as atividades de convívio social e melhorar sua qualidade de vida diante do impacto da aquisição do estoma. Esse momento caracteriza-se por uma primeira etapa, na qual transcorre a aceitação do estoma pelo idoso e, com isso, ele necessita entender que o estoma foi confeccionado com o intuito de preservar sua saúde.

 Uma estratégia de reabilitação para o idoso ostomizado, é fazê-lo perceber que não está sozinho e compartilhar as experiências e as transformações em suas vidas; e uma outra alternativa é estimular a mudança de atitude e reinserção dele no meio familiar e social.

Ensinar a conviver com a ostomia é um processo multidimensional, abrangendo não só os idosos, mas sua família, sem contar a necessidade de estimular diariamente à promoção de qualidade de vida.

Muitas vezes, o idoso ostomizado apresenta dificuldades no manuseio dos acessórios de cuidado com estoma, seja por déficit motor, seja por receio ou por compreender a estomização como uma etapa complicada ou complexa em sua vida, por isso, é importante a presença de um familiar ou amigo para auxiliá-lo no cuidado ou na manutenção de sua autonomia.

Muitos idosos, apesar de realizarem suas atividades diárias sem necessitar de auxílio, apresentam dependência no cuidado com as ostomias. Isso pode ser por causa da família ou do próprio idoso em acreditar que um idoso doente se torna incapaz ou não é apto para realizar seu cuidado, e o cuidado superprotetor pode torná-lo cada vez mais dependente. É importante lembrar que é necessário um determinado tempo para que os idosos se adaptem com os cuidados e com a ostomia.

Os cuidados empregados com a bolsa e com a pele peri-estomal são importantes, pois os produtos usados na manutenção da ostomia e a prevenção das complicações auxiliam na qualidade de vida do idoso ostomizado. Devido às mudanças que ocorrem com o avançar da idade, a pele e o tecido subcutâneo tornam-se finos, e a pele se irrita com mais facilidade, gerando uma maior preocupação quanto ao cuidado com a pele no idoso ostomizado.

As dificuldades do ostomizado idoso e seus familiares para continuidade do cuidado após a alta hospitalar, ocorrem em todos os aspectos, sejam físicos, emocionais ou sociais, tanto da sua vida como da família. Por isso, é importante que uma pessoa capacitada, no caso o enfermeiro, de orientações sobre: o processo de adaptação e uso da bolsa coletora, o cuidado com a ostomia e com a alimentação adequada, além de encaminhá-lo e estimulá-lo a participar de um grupo de apoio, que possa ajudar os ostomizados a conviverem com esta nova situação.

O ostomizado precisa adaptar-se a essa nova situação em busca da harmonia e da restauração das suas forças, pois a diminuição da autoestima faz com que alguns ostomizados retraiam-se e busquem o isolamento como forma de autodefesa, provocando alterações de ordem física, psicológica, social e espiritual, além de alterações na sua imagem corporal, fazendo com que eles necessitem de cuidados específicos para conseguirem sua reinserção social.

Os processos de auto-estioma, autocuidado e auto-organização são possíveis, quando o idoso ostomizado identifica sua posição de importância junto aos demais ostomizados e sua família, e quando ele se sente acolhido e mais seguro para desempenhar os cuidados aprendidos.

A aceitação do estoma pelo idoso, apesar da falta de conhecimento e medo inicial, surge do convívio com outros ostomizados, do incentivo recebido pelo serviço de estomaterapia e da presença dos familiares e amigos, ajudando-os no enfrentamento.

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