Câncer de intestino
Christiane e Cláudia Yamada
Ao
se analisar a distribuição proporcional da ocorrência de casos de câncer na
população brasileira, observa-se que o câncer do intestino grosso (cólon, reto
e ânus), encontra-se entre os dez primeiros tipos de câncer mais incidentes e trata-se do mais frequente do aparelho digestivo.
Além de estar afetando uma população cada vez mais
jovem.
É o terceiro tipo de câncer mais
comum, após o câncer de mama e pulmão nas mulheres e do câncer de próstata e
pulmão nos homens, com exceção do câncer de pele.
Muitas vezes o câncer de cólon e reto se desenvolve sem sintomas
que possam alertar os pacientes para um tratamento precoce; e como o diagnóstico do tumor do intestino geralmente é
tardio, em alguns casos só é confirmado na cirurgia. Assim
mesmo, são cânceres que uma vez detectados podem apresentar um bom índice de
cura.
Seus
sintomas podem estar ausentes ou ainda serem interpretados como pertencentes a
vários outros quadros clínicos. Alguns sintomas ou
sinais que podem denunciar a presença de tumores de cólon e reto: sangramento
anal, eliminação de muco junto com as fezes, modificação do ritmo de
evacuações, dores localizadas nos trajetos do intestino grosso, aumentos
localizados no abdome.
Todos ou alguns desses sinais ou
sintomas podem estar presentes, assim como o paciente também pode ser portador
de um tumor sem que algum sinal ou sintoma seja constatado. Somente à medida
que o tumor progride é que os sintomas tornam-se mais frequentes.
Seria conveniente que todo indivíduo
que tivesse alguma dessas queixas procurasse o profissional da saúde para
esclarecer a causa.
O câncer colorretal,
também chamado de carcinoma, tem origem na camada interna do intestino grosso,
a camada mucosa. O processo que leva à formação de um carcinoma pode levar
vários anos. Antes da transformação em carcinoma, a maioria dos tumores se
origina a partir de pequenas lesões chamadas pólipos adenomatosos. Esses
pólipos, apesar de benignos, são considerados precursores dos carcinomas
colorretais.
Tanto os pólipos como os carcinomas em fases iniciais
costumam quase não causar sintomas. Nesse sentido, o rastreamento é
fundamental, já que tem como principal objetivo detectar a doença em fase
inicial, muitas vezes ainda antes da completa transformação em carcinoma
invasor. Com isso as chances de cura se tornam muito mais elevadas.
A
colonoscopia é o principal exame para o rastreamento do câncer colorretal.
Consiste no estudo endoscópico do intestino grosso, ou seja, a introdução de
uma câmera flexível pelo ânus. Durante a colonoscopia é possível detectar e
remover, na maioria das vezes, os pólipos intestinais e encaminhar para a
biópsia. Uma das maneiras mais eficazes de se evitar
o aparecimento de câncer colorretal é a remoção dos pólipos por meio da colonoscopia.
O objetivo
do rastreamento não é diagnosticar mais pólipos ou mais lesões planas, mas sim,
diminuir a incidência e mortalidade por câncer do intestino. O exame colonoscópico é reservado a pacientes com pesquisa de
sangue oculto nas fezes positiva (e a origem do sangramento não foi detectada
pelo toque retal ou retossigmoidoscopia) e para população de risco moderado ou
alto de desenvolvimento para câncer do intestino.
Existe uma parte da população chamada de
"população de risco"; que são os indivíduos que tem ou tiveram
familiares com tumores do aparelho digestivo ou, mais exatamente, do intestino
grosso. Eles têm um risco três vezes maior de apresentarem a doença, pois o
câncer de intestino geralmente esta associado a condições hereditárias, como a
Polipose Adenomatose Familiar.
As chamadas doenças inflamatórias
intestinais são raras em suas formas mais severas, mas também apresentam um
risco elevado para a ocorrência do câncer colorretal, após alguns anos de
evolução da doença. Estas doenças incluem a retocolite ulcerativa inespecífica
e a doença de Crohn.
Os
indivíduos com história pregressa de adenomas, câncer de mama, ovário,
endométrio, portadores de colite ulcerativa e doença de Chron também apresentam
um grande risco de desenvolver câncer de intestino.
Entre os fatores
relacionados ao desenvolvimento do câncer de intestino encontra-se,
principalmente, a idade (sendo a maioria dos casos diagnosticada após os 60
anos) assim como os hábitos de vida inadequados,
como: dieta baseada em consumo
excessivo de carne vermelha, rica em
gorduras, alimentos com aditivos, conservantes e corantes, pobre em fontes de
fibras (frutas e verduras), consumo
exagerado de bebidas alcoólicas, falta de exercícios físicos regulares
(sedentarismo), tabagismo, obesidade, doença
inflamatória crônica do intestino (colite ulcerativa ou doença de Crohn).
Ter uma dieta balanceada, rica em
frutas e verduras, praticar regularmente exercícios físicos e não fumar
representam medidas de grande benefício para o controle da obesidade, de
doenças cardiovasculares, e também do câncer, principalmente, quando iniciadas
na juventude
As recomendações atuais para o rastreamento do câncer colorretal
incluem todas as pessoas acima dos 50 anos de idade, independentemente de
apresentarem sintomas. No entanto, pacientes mais jovens, com histórico
familiar de câncer, também devem ser avaliados, a detecção precoce deste
câncer, é curado em mais de 70% quando tratado em fase inicial.
O tratamento
depende principalmente do tamanho, localização e extensão do tumor e da saúde
geral do paciente. Os pacientes são freqüentemente tratados por uma equipe
multidisciplinar de especialistas, que poderá ser formada por um
gastroenterologista, um cirurgião, um oncologista clínico e um oncologista
radioterapeuta. Variados tipos de tratamentos são utilizados sendo que algumas
vezes há a combinação de uma ou mais formas de tratamento.
A cirurgia é necessária em praticamente
todos os casos e pode ser a única forma de tratamento, nas fases muito
iniciais, porém, nem sempre é a primeira forma de tratamento. A sequência
correta é baseada na localização do tumor e no estadiamento e deve ser muito
bem planejada por uma equipe experiente. A cirurgia se baseia na remoção do segmento acometido do
intestino grosso, com margens de segurança adequadas.
Em muitos casos de tumores do reto, pode ser necessária a
realização de uma colostomia ou ileostomia. Isso significa a exteriorização
(“colocar para fora”) do intestino na parede abdominal para saída de fezes. Na
grande maioria das vezes, a colostomia ou a ileostomia são provisórias, mas às
vezes pode ser definitiva. A necessidade desse procedimento depende de vários
fatores, sendo o principal deles a proximidade do tumor em relação ao ânus.
Avanços nas técnicas cirúrgicas, assim como na radioterapia e na
quimioterapia, têm permitido a ampliação das possibilidades de preservação da
função evacuatória por via anal. O
câncer de cólon e reto é uma das várias razões que leva a confecção de um
ostoma.
Já os avanços no tratamento combinado, incluindo quimioterapia e
radioterapia, permitem ampliar a indicação da abordagem curativa, mesmo em
casos avançados da doença.
O cuidado no
acompanhamento após o tratamento do câncer colorretal é importante para
assegurar que as alterações de saúde sejam relatadas e para o diagnóstico
precoce e tratamento adequado de recidivas ou novos tumores. As avaliações
poderão incluir, além do exame físico: colonoscopia, raio-X de tórax, testes
laboratoriais e exames radiológicos como ultra-sonografia e tomografia.
O
câncer é uma doença que geralmente causa aos indivíduos várias limitações, seja
pela doença ou pelo tratamento. Essas limitações associadas à idade podem
atingir proporções difíceis de serem contornadas, gerando muitas vezes
incapacidade com um grau de dependência total.
O suporte
emocional é extremamente importante para promover melhor qualidade de vida dos
doentes.
No
Brasil, com o aumento da expectativa de vida da população, as neoplasias vêm
ganhando cada vez mais importância no perfil de morbidade e mortalidade.
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