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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O ostomizado e a falta de água

Christiane e Cláudia Yamada

Atualmente (desde o ano passado) a notícia que mais circula nas mídias (tv, rádio, Internet, jornal, revistas) é sobre a crise da água. Crise que não começou hoje, não começou ontem e nem no ano passado, mas há muitos anos atrás (em São Paulo o primeiro sinal veio em 2004!!!).

Sabemos que a água é o recurso natural mais abundante do planeta, podendo ser encontrado em quase todos os lugares, e ela está no dia a dia de todas as pessoas que habitam o planeta (cerca de 7 bilhões). Além de matar a sede, a água está nos alimentos, nas roupas, nos carros... Mas o recurso mais fundamental para a sobrevivência dos seres humanos enfrenta uma crise de abastecimento. Estima-se que cerca de 40% da população global viva hoje sob a situação de estresse hídrico.

A diminuição da água no mundo é constante e, muitas vezes, silenciosa. Mas a culpa da crise no planeta não é só da instabilidade de “São Pedro”, pois a população cresceu muito. E a urbanização, que aumenta a poluição dos rios e dificulta o acesso à água potável, também entrou na mistura, junto com todos aqueles outros vilões que nós já conhecemos: verticalização, impermeabilização do solo, falta de planejamento, sobrecarga do sistema de abastecimento e coleta. A Sabesp estima que, em São Paulo, 25% da água se perca no caminho entre a distribuidora e as torneiras das casas.

Além disso, existem outros fatores muito conhecidos por todos nós: o desperdício (escovar os dentes e lavar louça com torneira aberta, varrer calçada com esguicho de mangueira, tomar banho muito demorado...) e também a falta de conscientização da população, das empresas e do governo.
Para evitar que o mundo chegue a situação extrema de falta de água, algumas medidas podem ser tomadas, como por exemplo, o reuso da água, que vem sendo utilizado por muitas empresas para diminuir seus gastos e também colaborar com o meio ambiente. No Brasil, 80% do esgoto coletado vai parar em cursos d'água sem receber nenhum tratamento.

A população também pode contribuir, evitando o desperdício de água com pequenas mudanças no cotidiano em suas casas, propriedades e estabelecimentos comerciais. No Brasil se gasta cerca de cinco vezes mais água do que o necessário. O consumo é de cerca de 200 litros por dia por pessoa, sendo que a OMS recomenda gastos de 40 litros por dia por pessoa. Este desperdício todo nos preocupa, pois o ser humano é capaz de ficar 60 dias sem comer, mas só resiste cinco sem água.
Estamos falando tanto de crise da água e da necessidade de economizar água, e você deve estar pensando: qual a relação da crise da água com este blog ou com o ostomizado??? A relação é muito grande!!!

Quando uma pessoa fica ostomizada, geralmente, recebe orientação do médico, da nutricionista e do enfermeiro estomaterapeuta para beber bastante água, pois normalmente o ostomizado (principalmente o íleo e o urostomizado) se desidrata mais facilmente que uma pessoa que não é ostomizada. Isso acontece porque uma pessoa ostomizada não consegue controlar o funcionamento do seu intestino e/ou bexiga, eliminando mais líquidos pelas fezes e pela urina. Uma pessoa colostomizada deve beber pelo menos 2,0 litros/dia, um ileostomizado 2,5 litros/dia e urostomizado de 2,5-3,0litros/dia de água!

Também precisamos beber bastante água porque algumas vezes a pele ao redor do nosso estoma coça e uma das causas pode ser a falta de hidratação. E assim ao tomar água, se a causa da coceira for essa, a irritação ao redor do estoma irá melhorar.

Muitas vezes, durante a troca da placa/bolsa de ostomia, o intestino e/ou bexiga não para de funcionar, e com isso o tempo do banho é mais demorado. Pois, para trocarmos a placa/bolsa de ostomia, é preciso limparmos e secarmos bem a pele ao redor do estoma, e se ele estiver funcionando, é necessário esperarmos que ele pare, pois a placa/bolsa, não irá aderir à pele úmida ou suja. Portanto, mesmo com essa crise de água, muitas vezes, não tem como uma pessoa ostomizada tomar um banho de 5 minutos, pois se o estoma estiver funcionando é preciso ficar lavando a pele, pois a urina e as fezes assam a pele ao redor do estoma, da mesma maneira que assam a pele de um bebê, quando ele fica por muito tempo com a fralda suja! Portanto, muitas vezes, o ostomizado não demora no banho porque ele quer, mas por necessidade.

Além disso, o número de descargas que damos durante o dia é muito maior, pois como não conseguimos controlar nossas fezes e/ou a urina, quando a bolsinha enche precisamos esvaziá-la. Quantas vezes ao dia? Depende se é colostomia, ileostomia ou urostomia., depende de cada organismo, do tratamento, do medicamento... Os ostomizados precisam esvaziar a sua bolsa quantas vezes forem necessário.

Às vezes nos perguntamos: “Será que é justa a cobrança de multa para quem gasta mais água?” É justa para aquelas pessoas que DESPERDIÇAM água, mas e aquelas que gastam mais água por necessidade?

Outro dia estávamos pensando, se esta multa fosse cobrada em 2009, teríamos que recorrer, pois com certeza seríamos multados. Imaginem, uma família com 3 ileostomizados e além disso, duas delas fazendo quimioterapia, tendo como um dos efeitos colaterais a diarréia, sendo necessário esvaziar a bolsinha umas 20 vezes ao dia. Mais a demora no banho para trocar a placa de ostomia, mais os lençóis e roupa que tínhamos que lavar quando a placa se soltava durante o sono (as vezes mais de uma vez por semana)...não tem como mensurar o quanto de água a mais gastamos pelo fato de ficarmos ostomizados.

O ostomizado pode sim economizar água! Não escovando os dentes ou lavando a louça com torneira aberta, não lavando a calçada, garagem ou carro com mangueira....mas temos sim que nos hidratar sempre, esvaziar a bolsa de ostomia e podemos demorar mais vezes no banho para trocar a bolsa/placa!!! Uma pessoa ostomizada dificilmente sobrevive sem água!!!!

Referências:


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