Christiane e Cláudia
Yamada
Atualmente (desde o ano passado) a
notícia que mais circula nas mídias (tv, rádio, Internet, jornal, revistas) é
sobre a crise da água. Crise que não começou hoje, não começou ontem e nem no
ano passado, mas há muitos anos atrás (em São Paulo o primeiro sinal veio em
2004!!!).
Sabemos que a água é o recurso
natural mais abundante do planeta, podendo ser encontrado em quase todos os
lugares, e ela está no dia a dia de todas as pessoas que habitam o planeta
(cerca de 7 bilhões). Além de matar a sede, a água está nos alimentos, nas
roupas, nos carros... Mas o recurso mais fundamental para a sobrevivência dos
seres humanos enfrenta uma crise de abastecimento. Estima-se que cerca de 40%
da população global viva hoje sob a situação de estresse hídrico.
A diminuição da água no mundo é
constante e, muitas vezes, silenciosa. Mas a culpa da crise no planeta não é só
da instabilidade de “São Pedro”, pois a população cresceu muito. E a
urbanização, que aumenta a poluição dos rios e dificulta o acesso à água
potável, também entrou na mistura, junto com todos aqueles outros vilões que nós
já conhecemos: verticalização, impermeabilização do solo, falta de
planejamento, sobrecarga do sistema de abastecimento e coleta. A Sabesp estima
que, em São Paulo, 25% da água se perca no caminho entre a distribuidora e as
torneiras das casas.
Além disso, existem outros fatores
muito conhecidos por todos nós: o desperdício (escovar os dentes e lavar louça
com torneira aberta, varrer calçada com esguicho de mangueira, tomar banho
muito demorado...) e também a falta de conscientização da população, das
empresas e do governo.
Para evitar que o mundo chegue a situação extrema de
falta de água, algumas medidas podem ser tomadas, como por exemplo, o reuso da
água, que vem sendo utilizado por muitas empresas para diminuir seus gastos e
também colaborar com o meio ambiente. No Brasil, 80% do esgoto coletado vai
parar em cursos d'água sem receber nenhum tratamento.
A população também pode contribuir, evitando o
desperdício de água com pequenas mudanças no cotidiano em suas casas,
propriedades e estabelecimentos comerciais. No Brasil se gasta cerca de cinco
vezes mais água do que o necessário. O consumo é de cerca de 200 litros por dia
por pessoa, sendo que a OMS recomenda gastos de 40 litros por dia por pessoa.
Este desperdício todo nos preocupa, pois o ser humano é capaz de ficar 60 dias
sem comer, mas só resiste cinco sem água.
Estamos falando tanto de crise da
água e da necessidade de economizar água, e você deve estar pensando: qual a
relação da crise da água com este blog ou com o ostomizado??? A relação é muito
grande!!!
Quando uma pessoa fica ostomizada,
geralmente, recebe orientação do médico, da nutricionista e do enfermeiro estomaterapeuta
para beber bastante água, pois normalmente o ostomizado (principalmente o íleo
e o urostomizado) se desidrata mais facilmente que uma pessoa que não é ostomizada.
Isso acontece porque uma pessoa ostomizada não consegue controlar o funcionamento
do seu intestino e/ou bexiga, eliminando mais líquidos pelas fezes e pela
urina. Uma pessoa colostomizada deve beber pelo menos 2,0 litros/dia, um
ileostomizado 2,5 litros/dia e urostomizado de 2,5-3,0litros/dia de água!
Também precisamos beber bastante
água porque algumas vezes a pele ao redor do nosso estoma coça e uma das causas
pode ser a falta de hidratação. E assim ao tomar água, se a causa da coceira for
essa, a irritação ao redor do estoma irá melhorar.
Muitas vezes, durante a troca da
placa/bolsa de ostomia, o intestino e/ou bexiga não para de funcionar, e com
isso o tempo do banho é mais demorado. Pois, para trocarmos a placa/bolsa de
ostomia, é preciso limparmos e secarmos bem a pele ao redor do estoma, e se ele
estiver funcionando, é necessário esperarmos que ele pare, pois a placa/bolsa,
não irá aderir à pele úmida ou suja. Portanto, mesmo com essa crise de água,
muitas vezes, não tem como uma pessoa ostomizada tomar um banho de 5 minutos,
pois se o estoma estiver funcionando é preciso ficar lavando a pele, pois a
urina e as fezes assam a pele ao redor do estoma, da mesma maneira que assam a
pele de um bebê, quando ele fica por muito tempo com a fralda suja! Portanto,
muitas vezes, o ostomizado não demora no banho porque ele quer, mas por necessidade.
Além disso, o número de descargas
que damos durante o dia é muito maior, pois como não conseguimos controlar
nossas fezes e/ou a urina, quando a bolsinha enche precisamos esvaziá-la.
Quantas vezes ao dia? Depende se é colostomia, ileostomia ou urostomia., depende
de cada organismo, do tratamento, do medicamento... Os ostomizados precisam
esvaziar a sua bolsa quantas vezes forem necessário.
Às vezes nos perguntamos: “Será
que é justa a cobrança de multa para quem gasta mais água?” É justa para aquelas
pessoas que DESPERDIÇAM água, mas e aquelas que gastam mais água por
necessidade?
Outro dia estávamos pensando, se
esta multa fosse cobrada em 2009, teríamos que recorrer, pois com certeza
seríamos multados. Imaginem, uma família com 3 ileostomizados e além disso, duas
delas fazendo quimioterapia, tendo como um dos efeitos colaterais a diarréia, sendo
necessário esvaziar a bolsinha umas 20 vezes ao dia. Mais a demora no banho
para trocar a placa de ostomia, mais os lençóis e roupa que tínhamos que lavar
quando a placa se soltava durante o sono (as vezes mais de uma vez por
semana)...não tem como mensurar o quanto de água a mais gastamos pelo fato de
ficarmos ostomizados.
O ostomizado pode sim economizar
água! Não escovando os dentes ou lavando a louça com torneira aberta, não
lavando a calçada, garagem ou carro com mangueira....mas temos sim que nos
hidratar sempre, esvaziar a bolsa de ostomia e podemos demorar mais vezes no
banho para trocar a bolsa/placa!!! Uma pessoa ostomizada dificilmente sobrevive
sem água!!!!
Referências: