E-mail: ostomiasemfronteiras@yahoo.com.br

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Depoimento de Edna Pereira

Vamos conhecer a história da Guerreira Edna Pereira?



Olá, sou Edna Pereira, mais conhecida por meus amigos ostomizados, como Eda Pereira. Moro em São Paulo, tenho 44 anos e há 22 anos sou portadora de Doença de Crohn, uma inflamação crônica intestinal.
Minha primeira cirurgia foi em 1994, 3 anos após o diagnóstico. Foi uma cirurgia simples e rápida para a retirada de uma fístula anal que muito me incomodava. Após esta data tive várias crises com diarreia, febre, emagrecimento e outras “coisitas” mais. Passei por várias internações, porém não havia passado por mais nenhuma outra cirurgia; até que em 2008, nem mesmo as medicações mais caras e modernas, estavam fazendo efeito sobre a estenose anal e as múltiplas fístulas perianais e retovaginal, que a doença me presenteou.
Eu já não conseguia fazer as coisas mais simples como andar, sentar, subir e descer escadas; sem que eu não sentisse muita dor. Saía tanta secreção das fístulas que eu vivia com absorvente para não sujar a roupa e, por mais que eu tentasse manter a higiene, vivia suja e insegura para vestir algo mais claro ou justo. Meu figurino parecia um uniforme, pois adotei o uso de calça bailarina preta. Tinha um monte dessas calças, pela facilidade de tirar na hora das crises de diarreia, pela segurança que a cor escura me dava disfarçando as secreções e pela costura mais delicada, pois a costura das calças jeans machucavam e muito aquele monte de fístulas com abcessos no meu bumbum.
Voltando a 2008, minha qualidade de vida estava super baixa, assim como meu astral e autoestima. Já não tinha ânimo para mais nada.
Com as complicações se agravando, minha querida médica Dra. Andrea Vieira, me encaminhou para a equipe de cirurgia da proctologia da Sta Casa de SP, e então minha 2ª cirurgia, dessa vez bem mais complexa, foi agendada para Fevereiro de 2009.
Os médicos decidiram fazer uma ostomia provisória para desviar o trânsito intestinal e diminuir as infecções causadas pela contaminação das fezes sobre as fístulas.
Lógico que eu não queria ter que operar. Chorei muito quando soube que teria de usar bolsinha e cheguei a ficar com depressão, porém estava tão mal e com tantas dores, que acabei aceitando a ideia de uma ostomia. Diria que minha 2ª cirurgia foi um mix 2 em 1, pois fizeram uma ileostomia e uma fistulectomia , onde colocaram 10 fios de settons em minhas fístulas.
Tive alta, fui para casa e surpreendi minha família e à mim mesma. O 1º dia que amanheci em meu quarto, estava sozinha e tive tempo para avaliar meus pensamentos. Tinha 2 ideias que gritavam forte em minha cabeça. Uma delas me fazia sentir muita pena de mim mesma e a outra me incentivava a levantar, me fazer de forte e guerreira. Graças a Deus, decidi pela 2ª opção, e desde então luto para viver o que for possível da melhor maneira possível.
É óbvio que nestes 4 anos de ostomia, vez por outra, existem aqueles maus momentos. Deixo que venham, pois não sou de ferro. Tiro meu fardo das costas, coloco no chão e dou um tempo, esperando recuperar minhas forças. Aprendi com minhas psicólogas que é bom me permitir; então curto “meu momento conchinha”, fico quietinha no meu canto e normalmente consigo dar um jeito sozinha. Quando não consigo fazer isso, corro e peço ajuda para alguém da família, para um amigo ou para um profissional. Um irmão ou um amigo são uma benção, mas muitas vezes um psicólogo é bem necessário e, eu recorro a esse auxílio sem orgulho ou vergonha.
Energia recuperada, procuro fazer coisas que me dão prazer, e a ostomia me fez descobrir novos talentos, novas alegrias, novos amigos e nova paixão pela vida.
No polo onde retiro meu material de ostomia existe um programa de apoio à ostomizados e algumas atividades. Em 2010 comecei a participar das aulas de Yoga com as professoras Luiza e Darci (tb ostomizada). Animada com meu progresso e incentivada pela médica do programa, Dra. Jéssica, resolvi praticar dança do ventre, pois segundo a doutora, seria bom para a musculatura do abdome, assim como para a mente. Me inscrevi em uma escola perto de casa e pude contar com o total apoio e respeito da professora de dança, Marlene Reis. No início eu dizia que só iria participar das aulas, mas nunca participaria de nenhuma apresentação, afinal eu usava uma bolsinha e seria impossível vestir uma roupa de dançarina de dança do ventre. No final de 2010, via minhas colegas cheias de euforia arrumando suas roupas para a apresentação de encerramento. Eu sabia todas as coreografias, pois havia ensaiado com elas durante meses. Meus amigos da AOMSP me incentivavam e falavam da Eliane Santos, uma guerreira ostomizada, dançarina de dança do ventre, e hoje minha amigona.
Minha família também me incentivou muuito e minha comadre Regina, fez minha roupa com uma faixa especial para disfarçar a bolsa.
Nossa, foi como ganhar o Oscar!!! Eu não me aguentava de tanta alegria por poder estar ali sem dor. E apesar de ostomizada, me apresentei vestida à caráter, aplaudida por minha família amada e meus queridos amigos. Estar naquela apresentação e curtir aquele momento mágico na minha vida era como uma oração fervorosa de agradecimento a Deus, por ter colocado no meu caminho um médico talentoso e humano como o Dr. Idblan C. Albuquerque, que me ajudou a recuperar a qualidade de vida, depois de 11 vezes de idas e vindas do centro cirúrgico para curar minhas fistulas.
Com tantas coisas boas que meu amado Pai do Céu estava me permitindo viver, não havia razão para eu me revoltar ou lamentar por ser portadora de Doença de Crohn e ostomizada; pelo contrário, eu tinha tudo para agradecer. Então chegou meu momento de retribuir um pouco do muito que havia recebido. Há mais ou menos um ano e meio, passei a fazer parte do grupo de acolhedores voluntários, coordenado pela Geraldine, presidente da AOMSP (Assoc. Dos Ostomizados do Munic. De São Paulo) no AME Barradas e um mês depois, iniciei meu voluntariado também no CROHNISTAS DA ALEGRIA, um grupo de vivência e apoio psicológico a portadores de DII (Doença Inflamatória Intestinal), criado por pacientes do ambulatório de coloproctologia do Hospital Heliópolis.
Apesar de estar na ativa, ainda carrego algumas complicações e terei de fazer nova cirurgia. Com certeza esta será a maior de todas, pois terei de fazer uma amputação anorretal e tornar minha ostomia definitiva.
A cirurgia está prevista para ser feita até o final de 2013.
Que Deus, com sua infinita bondade e sabedoria, me permita passar logo por essa fase dolorosa e voltar ativamente a trabalhar, ajudando e aprendendo com meus semelhantes. Que eu consiga lidar com a nova experiência, da mesma maneira que venho lidando até hoje. Que meu astral e alegria de viver estejam sempre comigo. Que eu mantenha o bom humor e boa vontade com a vida.
Que assim seja.


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

MÃE QUERIDA...MÃE GUERREIRA...MÃE CORAGEM....SIMPLESMENTE NOSSA MÃE!!!

Christiane e Cláudia Yamada

Hoje, viemos especialmente, homenagear uma grande guerreira....a nossa mãe! Não só a nossa mãe, mas a mãe de todos vocês, aquela que sempre nos apoiou, deu força e esteve presente nesta nossa luta!!!
O amor de uma mãe pode ser traduzido em uma única palavra: doação. É a mais completa forma de amor. Um amor que se doa, coloca em primeiro plano o bem-estar, a segurança de um outro ser, que são os seu(s) filho(s). Não só a nossa mãe, como tantas mães em nosso país, olha com lágrimas nos olhos o presente e o futuro árduo de um filho. No rosto de uma mulher que assume a maternidade inteiramente, mesmo diante de tudo o que há de vir, há a presença iluminada de um lado vivo, mas que muitas vezes é esquecido por nós, homens e mulheres: O amor!
A nossa Mãe é a amiga mais verdadeira que tivemos, temos e teremos quando a dificuldade dura e repentinamente cai sobre nós; quando a adversidade toma o lugar da prosperidade; quando os amigos que se alegram conosco nos bons momentos nos abandonam; quando os problemas complicam-se ao nosso redor, ela ainda estará junto de nós, e se esforçará através de seus doces preceitos e conselhos para dissipar as nuvens de escuridão, e fazer com que a paz volte aos nossos corações. E foi exatamente isso que aconteceu quando nós passamos por nossa maior prova de fogo: a ostomia e o câncer!
A ostomia é uma cirurgia de difícil aceitação, porém, não só nós, como muitas pessoas a consideram como a cirurgia da vida, pois além de salvar as nossas vidas, ela também nos devolveu a qualidade dela. Se não fosse possível fazer esta cirurgia, provavelmente a nossa vitória seria muito difícil ou quase impossível. É lógico que no começo não foi fácil a nossa aceitação e nem a adaptação, porém com o tempo, nós fomos nos adaptando e hoje agradecemos muito por estarmos vivos e com saúde, graças a ostomia, a medicina e aos nossos médicos.
A nossa família conheceu o mundo da ostomia há muito tempo, mais de 50 anos. Isso porque somos portadores de Polipose Adenomatosa Familiar (PAF), que é uma das causas que pode levar uma pessoa a ficar ostomizada. Por causa da PAF, o nosso avô paterno e nosso pai foram ostomizados e, infelizmente, ambos já faleceram. E nós, os três filhos, também herdamos a PAF e por isso também passamos por esta experiência, sendo uma definitiva e duas temporárias. Para vocês entenderem melhor o motivo de tanta ostomia na nossa família, vamos falar um pouco sobre a PAF.
A Polipose Adenomatosa Familiar (PAF) é uma síndrome de pré-disposição hereditária ao câncer, tendo como principal característica clínica o surgimento de múltiplos pólipos adenomatosos em cólon e/ou reto, no geral, mil ou mais. Tais pólipos aparecem durante a adolescência ou no começo da vida adulta. Se não monitorada, causa em quase 100% dos casos de câncer colorretal. A prevalência estimada da PAF é 1:10.000, sendo responsável por cerca de 1% de todos os casos de câncer colorretal. O tratamento consiste em minucioso monitoramento, e colectomia total (amputação de todo o intestino grosso), recomendável antes dos 25 anos de idade.
Nós não sabemos em qual geração começou a aparecer o gene da PAF na nossa família, mas a primeira pessoa que nós temos o conhecimento de que teve a PAF, foi o nosso avô paterno. Infelizmente ele faleceu muito cedo e quando isto aconteceu nosso pai ainda era criança. Por isso, ele não tinha o conhecimento de que poderia ter uma doença hereditária e de que era necessário fazer exames preventivos para se evitar que a doença evoluísse para um câncer.
Papai cresceu, sem saber que era portador de PAF, e o seu diagnóstico correto foi muito tardio em 1982, isso porque muitos médicos proctologistas que ele consultou, diagnosticou a doença como hemorroidas! Quando, finalmente, o médico fez o diagnóstico correto, a doença já tinha evoluído para câncer colorretal, e foi preciso retirar todo o intestino grosso, fazer a amputação do reto e confeccionar uma ileostomia definitiva. Nosso pai viveu 14 anos ostomizado.
Durante esses 14 anos, papai teve uma vida normal, trabalhou, viajou, entrou na piscina e no mar, jogou bola, nos educou, ajudou nossa mãe a cuidar de nós..., nem parecia que era ostomizado e aproveitou muito mais a vida que várias pessoas ditas “normais”! Isso só foi possível pela força de vontade dele e também pelo apoio e amor incondicional da nossa mãe.
Papai foi e sempre será o nosso herói e mamãe sempre será nossa guerreira e nossa heroína, se não fosse a sua garra, o seu amor, o seu carinho, o seu apoio, a sua dedicação...por nós, com certeza a nossa trajetória teria sido muito mais difícil e dolorosa!
Além de se desdobrar para cuidar de nós e de papai durante as várias cirurgias e tratamentos oncológicos, ainda teve que “engolir” a sua dor e ser forte para nos dar força quando ele faleceu. Não bastasse tudo isso, teve que ser muito forte para manter a serenidade e nos dar força e apoio durante a fase mais crítica de nossa saúde física e emocional, quando soubemos que teríamos que fazer a cirurgia e também durante todo o pós-operatório e tratamento oncológico.
O ano de 2009 foi o ano mais “difícil” de nossas vidas....o ano em que nós três operamos e conhecemos o verdadeiro mundo da ostomia! Além da cirurgia nós duas também fizemos quimioterapia, pois alguns pólipos evoluíram para câncer. Especialmente neste ano, nossa mãe foi nosso alicerce, foi a pessoa que cuidou de nós, nos ajudou, deu força, apoio, muito carinho e amor! Mesmo em meio a tantas dificuldades ela nunca desistiu, sempre acreditou e teve fé de que tudo iria dar certo e de que nós venceríamos! Diante de tudo isso, podemos dizer que o amor incondicional de uma mãe por seu filho faz milagres..., faz com que ela consiga se desdobrar, se anular, se superar e ser capaz de fazer qualquer coisa por seus filhos!
Mãe, a senhora é nosso anjo sem asa! Aquela que se fosse preciso morreria por nós e mesmo com coração sangrando se doou para cuidar de nós e do papai! A senhora, sempre agindo com sentimento e o amor incondicional nos ajudou a vencer! Somos suspeitas, mas a senhora é a melhor mãe que Deus poderia ter nos dado!!!
MÃE QUERIDA...MÃE GUERREIRA...MÃE CORAGEM....SIMPLESMENTE NOSSA MÃE!!!
Nosso amor, reconhecimento e gratidão são sinceros e verdadeiros! Nós te amamos!!!

Essa é nossa homenagem a todas as mães guerreiras!!!!

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Dicas para aumentar a durabilidade da placa/bolsa

Christiane e Cláudia Yamada

Nós podemos dizer que uma das maiores “satisfações” para uma pessoa ostomizada é ter uma boa adaptação da bolsa de ostomia, pois com isso, consequentemente terá maior durabilidade, menor chance de infiltração e assadura na pele.

A durabilidade varia muito de pessoa para pessoa, pois depende do “estado” da pele, do tipo de estoma (retraído ou não) e a sua localização, além de outros fatores, e também depende do tipo e do modelo da bolsa.

O ideal é que a bolsa de ostomia dure pelo menos 3 dias, pois quanto mais frequente for a sua troca, maior será a possibilidade de se ter irritação ou até mesmo lesão na pele.
Para que a placa da bolsa de ostomia se fixe corretamente e por mais tempo, é muito importante tomar alguns cuidados:

- Utilize a placa mais adequada para a sua ostomia! Se ela for retraída a melhor opção será a convexa. Quando se utiliza a placa plana em um ostoma retraído, a sua durabilidade é pequena (as vezes não dura nem uma hora) e a chance de se ter infiltração e assadura é muito grande. Também é importante prestar atenção na localização do ostoma. Se ele estiver próximo à costela ou crista ilíaca (ossinho do quadril), pode ser que a flange da placa/bolsa tenha que ser menor!!!

- Faça o recorte da placa de acordo com o tamanho do seu ostoma, pois se o orifício ficar muito grande poderá causar assaduras na pele, além de ter grande possibilidade das fezes e/ou urina infiltrarem, fazendo com que a placa se solte com mais facilidade. Portanto, nunca coloque uma placa com o recorte grande!!! Se isto acontecer, preencha o espaço entre o estoma e a placa com a pasta (com ou sem álcool), que irá proteger a sua pele e evitar as infiltrações!!!

- Lave e enxague muito bem a pele ao redor do ostoma! Uma dica muito importante é evitar o uso de sabonetes com hidratantes ao redor do estoma, pois pode prejudicar a adesão da placa na pele.

- Seque bem a pele, principalmente ao redor do ostoma, pois se estiver úmida, ou mesmo transpirando, prejudicará a adesão da placa. Se for necessário utilize o secador com ar frio.

- Se você tiver a pele ao redor do estoma irregular, utilize a pasta com álcool ou a barreira protetora sem álcool (caso você tenha alergia da pasta com álcool) para nivelar essas irregularidades.

- Se você estiver com assaduras ao redor do ostoma, utilize o pó protetor de pele! Geralmente quando a pele está com assaduras, ela fica úmida e a placa não cola adequadamente. Esse pó protetor adere às áreas úmidas e formará uma barreira protetora que cobrirá e protegerá a sua pele contra irritações causadas pelas fezes e/ou urina, além de melhorar a fixação das placas. Porém é muito importante que você retire o excesso, pois caso contrário a placa não irá colar.

- Os homens que tiverem muitos pelos no abdômen, podem apará-los para melhorar a fixação e troca da placa. Porém tome muito cuidado para não machucar o seu ostoma.

- Após trocar a placa, evite fazer movimentos bruscos e espere um tempo, até a placa colar bem na sua pele.


Se mesmo com estas dicas, a sua placa/bolsa continuar se soltando com muita facilidade, procure um enfermeiro estomaterapeuta, ele é o profissional mais indicado para te ajudar neste momento! Pode ser que seja necessário mudar o modelo e/ou marca da bolsa que você usa.