Christiane
e Cláudia Yamada
A ostomia é um procedimento
cirúrgico que consiste na construção de um estoma (abertura de um orifício
externo) na parede abdominal, por onde as fezes e/ou a urina são eliminadas
para o exterior. A cirurgia feita para inverter a ostomia é conhecida como
cirurgia de reversão, e ela é realizada quando a doença que ocasionou a ostomia
já está curada e o intestino pode voltar a funcionar
normalmente. A reversão da ostomia é um ato cirúrgico onde o transito
intestinal é restabelecido com sutura entre a “boca” da ostomia e a parte do
intestino que ficou inativa.
Existe um grande conflito
entre a alegria de fazer a reconstrução intestinal e o medo de enfrentar outra
cirurgia! Na maioria das vezes, quando a ostomia é realizada em uma cirurgia
eletiva, o médico se programa e pode confeccionar
a bolsa ileal, onde serão armazenadas as fezes, e por isso a cirurgia pode ser
considerada simples. Porém, se a ostomia for realizada em uma cirurgia de
urgência, não há tempo do médico se programar
e provavelmente, essa bolsa ileal, não será confeccionada e, portanto, a
cirurgia de reconstrução deverá ser realizada em duas etapas, primeiramente fazendo
a construção de uma bolsa ileal e depois a reconstrução do trânsito intestinal, sendo uma cirurgia mais complicada! E por isso a grande
dúvida: reverter ou não?
Se nós fizermos esta pergunta
para um ostomizado, a maioria responderá que gostaria de reverter, de fazer a
reconstrução do trânsito intestinal, porém isso nem sempre é possível. Dependerá
muito da causa da ostomia, da região do intestino/trato urinário que foi
afetada, e principalmente do resultado de uma série de exames solicitado pelo
médico...portanto em primeiro lugar será o nosso médico proctologista que
decidirá se é possível reverter ou não! Se for possível, aí sim nós poderemos
optar em fazer a reconstrução do trânsito intestinal ou ficar ostomizado(a)
definitivo(a)!
Sendo possível a reversão, também
será o médico que decidirá qual o momento certo para se fechar a ostomia. O
período médio para o fechamento de uma ostomia varia de 12 a 16 semanas, pelo
fato de se ter um risco maior de complicações se o fechamento for realizado em
um período inferior a 3 meses. Porém, pode ser que este tempo seja superior a
16 semanas e, muitas vezes, podem ser anos. Somente o nosso médico é capaz de
dizer se estamos aptos ou não e qual o momento ideal para fazermos a reversão.
A reconstrução do trânsito
intestinal, como qualquer outra cirurgia, tem riscos e é importante que o
paciente esteja ciente das complicações que pode ocorrer. É muito importante
que o médico converse com o paciente e explique sobre a fase de adaptação da
reversão, pois esta fase inicial costuma ser demorada e difícil, devido ao
grande número de evacuações líquidas que podem causar assaduras e desconforto
ao paciente. Além disso, existem relatos
de pessoas que ficaram com incontinência fecal e por isso optaram por fazer a
ostomia novamente. A não adaptação da reversão é um risco que o paciente corre!
Porém se ele não se arriscar nunca saberá!
Vamos falar um pouco sobre o
pós-cirúrgico e a fase de adaptação de uma cirurgia de reconstrução do trânsito
intestinal!
A fase de adaptação
dependerá da porção do intestino e/ou reto que foi preservado, do tratamento
(quimioterapia, radioterapia...) e da causa da ostomia (doença intestinal
inflamatória (retocolite, crohn), tumor, acidente)..., portanto a extensão do
“problema” poderá interferir no
número de evacuações e no tempo de adaptação.
No início é normal evacuar
logo após as refeições, existem casos de pessoas que evacuam 20 ou mais vezes
ao dia, inclusive de madrugada. Com o passar do tempo, a tendência é o
organismo começar a se adaptar e o número de evacuações diminuírem, podendo
chegar a menos de quatro evacuações por dia. Porém, depende muito do organismo
de cada um!
É muito importante manter
uma alimentação saudável e fazer pequenas alterações que irão ajudar na fase de
adaptação. Deve-se evitar alimentos gordurosos (fritura, creme de leite,
maionese, chantilly...), doces concentrados, verduras cruas (Quando o organismo
se adaptar não há problema em voltar a comer a verdura), substituir leite
integral pelo leite com menos lactose (o leite com menos lactose costuma ser
mais tolerável), ingerir bastante líquidos; se alimentar de 3 em 3 horas,
mastigar bem os alimentos...
Podemos dizer que fazer a
reversão tem seu lado positivo e negativo. Podemos considerar como positivo:
não precisar mais usar a bolsinha, não se preocupar com o dia da troca da bolsa
ou ficar com medo que ela vaze, poder usar qualquer tipo de roupa sem se
preocupar se a sua bolsinha irá marca-la ou não, ir a passeios sem se preocupar
se lá terá um banheiro adequado para esvaziar a bolsinha, esquecer as assaduras
ao redor do ostoma... Já o lado negativo seria: o número de evacuações (líquida
a pastosa) aumentada que geralmente causam assaduras anais, preocupação com a
existência de banheiros públicos bem higienizados, a necessidade de usar papel
higiênico macio para não machucar, preocupação com a alimentação,
principalmente, fora de casa, para que não tenha diarreia...
Não estamos aqui para ser
contra ou a favor da cirurgia de reversão da ostomia, a nossa intenção é apenas
mostrar os dois lados desta cirurgia, que às vezes pode não ter o resultado que
esperamos ou ter um resultado muito melhor do que o esperado.
Se você estiver apto a fazer
a reversão vale a pena conversar com outras pessoas que fizeram a reconstrução
do trânsito intestinal, e que foram ostomizadas pelo mesmo motivo que você.
Pois o organismo de uma pessoa que foi ostomizada por doença de Crohn, pode
reagir de maneira diferente do organismo de uma pessoa que sofreu acidente, ou que
fez radioterapia...Depois de trocar informações ficará mais fácil tomar a
decisão, mas não se esqueça que cada organismo reage de uma maneira, não é
porque uma pessoa evacua 20 vezes durante a fase de adaptação, que você também
irá evacuar 20 vezes...pode ser que você evacue mais ou menos!
A decisão final será sua e
somente sua!!! Existem pessoas que podem reverter, mas se adaptaram tão bem a
ostomia que optaram em ficar ostomizadas definitivas; existem pessoas que podem
reverter, mas ainda estão em dúvidas se reverter é a melhor opção ou não e
existem pessoas que gostariam de reverter e infelizmente não podem! Nós
desejamos que a sua escolha, independente de fazer ou não a reversão, seja a
melhor possível!!! Boa sorte!!!
Referências:
Bahten LCV, Nicoluzzi JEL,
Silveira F, Nicollulli GM, Kumagai LY, Lima VZ. Morbimortalidade da
reconstrução de transito intestinal colônica em hospital universitário -
análise de 42 casos. Rev bras. colo-proctol. v.26 n.2 Rio de Janeiro abr./jun.
2006.