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segunda-feira, 27 de julho de 2015

O que seria de mim sem a minha ostomia?

Christiane e Cláudia Yamada

Você entrou na minha vida de repente e a modificou totalmente, virou o meu mundo de cabeça para baixo, e sem ao menos pedir autorização, resolveu permanecer eternamente, até o último dia da minha vida.

Eu não vou negar que já te odiei, já chorei por sua causa e já reclamei muito de você. Antes da sua presença, a minha vida era tão mais fácil, eu podia vestir a roupa que quisesse, sem me preocupar se você iria aparecer ou não. Eu comia o que eu tinha vontade, sem ficar com medo de você obstruir, dar diarreia, gases ou chorar de tanta cólica. Eu não passava vergonha com os barulhos que você faz nos horários e lugares mais impróprios, e nem me preocupava com os estados dos banheiros públicos. Eu não precisava me preocupar com o que comer antes de trocar a sua “roupa” (placa e bolsa de ostomia). Eu não sentia o ardor (queimação) em volta de você e a minha pele estava sempre em perfeito estado.

Porém já faz tantos anos que você faz parte do meu corpo, que eu já aprendi a conviver com você. É lógico que se eu pudesse escolher em ser ou não ostomizada, eu escolheria não ser, mas hoje eu te vejo de outro modo. Hoje eu agradeço a sua existência, pois é graças a você que eu estou viva, é graças a você que eu tive a oportunidade de continuar ao lado de pessoas maravilhosas (família e amigos), é graças a você que eu posso passear e viajar... Se você não existisse, hoje eu não estaria aqui para te agradecer e agradecer pela minha vida.

Ainda reclamo muito de você na hora de trocar a sua “roupa” e com certeza ainda reclamarei muitas vezes, pois graças a você eu ainda viverei por muitos anos. E o que seria de mim sem você? Hoje pensando é fácil responder, simplesmente eu seria um nada, pois provavelmente não estaria mais aqui, e se ainda estivesse viva, não teria a qualidade de vida que tenho atualmente.

Com você eu aprendi muitas coisas, aprendi a não reclamar tanto da vida por problemas pequenos, aprendi a agradecer mais, aprendi a ajudar os outros e apesar de tantas dificuldades, aprendi a ser mais feliz.


É minha ostomia, você mudou a minha vida, não é fácil viver com você não, mas é melhor tê-la em minha vida e estar viva, do que não tê-la e não viver. 

2 comentários:

  1. Sou ostomizada há tres anos. Tive um CA de canal Anal em 2013. Após tratamento, houve recidiva. Então, em 2014 foi necessario a cirurgia. A principio, antes da cirurgia, uma tempestade de duvidas surgiu em meu mundo particular. Nao conseguia me inteirar sobre usar uma bolsa coletora. Pensava, em como poderia uma parte do meu intestino aflorar o meu abdome e a partir dali, as fezes serem coletadas, atraves de uma bolsa. Pesquisei muito sobre a Colostomia, e assisti ao um vídeo, onde mostrava todo o procedimento cirúrgico. Bem, fiz a cirurgia, e graças a Deus, tive uma ótima recuperação. Passei a ver o meu Estoma, como a um bebê, para o resto de meus dias, pois nao teria condições de saber a hora ou o momento de trocar a fralda, quer dizer, a bolsa coletora. Então, passei a chamá-lo "Meu Bebê". À medida, que passavam os dias, fui conhecendo melhor aquele serziznho que aflorava o meu abdome. Passei a conversar com ele, e criou-se uma afinidade enorme entre nós. E, quando tenho meus compromissos, quer seja, um passeio, uma caminhada, a atividade física praticada três vezes por semana, um almoço, ou um jantar, falo com o meu bebê Estoma para colaborar comigo, e para ele voltar às suas atividades, somente, após retornarmos para casa. Tenho obtido sucesso. Não tenho vergonha e nem constrangimento em falar sobre o meu Estoma. Conheço muitas pessoas, mas, nenhuma delas mencionou sequer uma vez, sobre a minha condição de ostomizada. Penso, que talvez, elas se sintam constrangidas em me perguntar. Entao, fico na minha. Para aquelas pessoas, que me veem, e não sabem da minha deficiecia fisica, sou uma pessoa normal, e que nada me falta. Na realidade, nada me falta. Apenas, por um acidente de percurso, houve um desvio do colo intestinal para a minha pele da parede abdominal, permitindo que as fezes sejam expulsas por ali. Aprendi muito com esta minha nova vida, que firmemente creio, que o Senhor Deus ma concedeu. Passei a ver as coisas ao meu redor de uma forma clara, transparente, de uma forma doce e mansa. Quer seja, para um dia ensolarado, ou chuvoso, uma brisa, ou vendaval, um intenso calor ou intenso frio... uma noticia agradavel ou desagradavel... Hoje nada me aborrece, nada me desaponta. Procuro uma justificativa amorosa e divina para cada momento da minha nova vida.

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    Respostas
    1. Malta Catapani, boa noite!!!
      Que lindo seu depoimento!!!
      Com certeza ajudará muitas pessoas!!!
      Você é um exemplo de superação e otimismo!!!
      Bjs

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