Nos últimos meses várias pessoas entraram
em contato conosco para conversar a respeito da cirurgia de reversão ou
reconstrução do trânsito intestinal.
Quando a reversão é possível existe um grande conflito entre a
alegria de fazer a reconstrução do trânsito intestinal e o medo de enfrentar
outra cirurgia e de ficar com incontinência fecal.
A reconstrução intestinal, como
qualquer outra cirurgia, tem riscos e é importante que você saiba que pode sim
ter complicações. Você precisa conversar com seu médico sobre a adaptação à
reversão, pois ela pode ser demorada e difícil, devido ao grande número de
evacuações líquidas que podem causar assaduras e desconforto, e nem sempre a
pessoa que faz se adapta.
Conhecemos pessoas que fizeram a
reversão e hoje estão ótimas, porém também conhecemos outras que ficaram com
incontinência fecal e que por isso resolveram fazer novamente a ostomia.
Nem sempre é possível fazer a
reversão. Dependerá muito da causa da ostomia, da região do intestino que foi
preservada, e do resultado de uma série de exames solicitado pelo
médico...portanto em primeiro lugar será o nosso médico proctologista que
decidirá se é possível reverter ou não e também qual o melhor momento para
fazer a cirurgia.
Hoje venho compartilhar com vocês a
história da minha cirurgia de reconstrução do trânsito intestinal e como foi a
minha adaptação. É lógico que a adaptação vai depender do organismo de cada um,
da doença/causa de base, do tratamento e também da alimentação.
Eu fiquei ileostomizada em julho de
2009 e fiz a reconstrução do trânsito intestinal em
janeiro de 2011. O motivo da minha ileostomia foi a Polipose Adenomastose Familiar. A cirurgia foi muito
tranquila. Como na primeira cirurgia (ileostomia) o médico cirurgião confeccionou
a bolsa ileal em J para armazenamento das fezes, nessa não foi necessário
“abrir” a barriga, ele apenas “puxou” as duas bocas (bolsa ileal em J e
intestino delgado) pelo orifício onde ficava o estoma, as costurou, e colocou
de novo para dentro. Muitas vezes quando a cirurgia é feita de emergência, o
médico não confecciona a bolsa em “J” e provavelmente a cirurgia de
reconstrução do trânsito intestinal é feita em duas etapas, na primeira o
médico confecciona a bolsa e na segunda ele faz a reconstrução do trânsito.
Depois da cirurgia não foi necessário
ficar na UTI, fiquei apenas em observação na sala de recuperação e fui direto
para o quarto. No dia seguinte já estava me alimentando com refeições leves.
Em 3 dias tive alta hospitalar. Saí do
hospital com dieta geral.
Os 3 primeiros meses pós reversão foram
os mais difíceis, pois as evacuações eram muito frequentes e as fezes mais
líquidas, o que me causava muita assadura.
No começo evacuava de hora em hora,
inclusive de madrugada. Foram 3 meses sem dormir direito. Com o passar do tempo
o meu organismo foi se adaptando e as fezes ficaram mais pastosas e menos frequentes.
Hoje, três anos após a cirurgia, evacuo
de 4 a 8 vezes por dia, mas isso depende muito do que eu como e da quantidade.
A minha alimentação teve pequenas
alterações, apenas substituí o leite normal pelo 90% menos lactose ou de soja,
evito comer fritura, doces muito concentrados e com muita gordura e alimentos
muito gordurosos, porém continuo comendo grãos, verduras, legumes, frutas e bebo
bastante líquido, pelo menos 2 litros por dia.
Não tomo nenhum remédio para “prender”
o intestino, porém conheço pessoas que tomam todos os dias.
Como disse antes, a adaptação da
cirurgia depende muito de organismo para organismo, da doença/causa da ostomia e
do tratamento realizado. No meu caso, foi a Polipose Adenomatose Familiar,
então retirei todo o intestino grosso e uma parte do reto, como é o intestino
grosso que faz a absorção da água, as minhas fezes não são totalmente pastosas
e por isso evacuo mais que uma pessoa que tem todo o intestino. Acredito que pessoas
que preservaram parte do intestino grosso e o reto inteiro evacuam menos vezes
e as fezes são mais pastosas.
Conheço pessoas com Doença de Crohn,
retocolite e mesmo polipose, que não se adaptaram à reversão, tiveram muita
diarréia e por isso, resolveram ficar
ostomizada novamente. Porém, isso não quer dizer que se você tem uma dessas
doenças você não irá se adaptar! Por isso, antes de fazer a reversão é muito
bom você conversar com o seu médico para que ele explique como será a sua
cirurgia e a sua adaptação e também é muito importante você conversar com
outras pessoas que tiveram o mesmo problema que você para saber como foi a sua
recuperação. Pois
o organismo de uma pessoa que foi ostomizada por doença de Crohn, pode reagir
de maneira diferente do organismo de uma pessoa que sofreu acidente, ou que fez
radioterapia...
Uma dica que eu dou para quem for fazer
a cirurgia de reconstrução do trânsito intestinal é levar rolos de papel
higiênico macio para o hospital, pois na maioria dos hospitais o papel
higiênico é muito grosso e acaba machucando e também levar lencinhos umedecidos
de limpar bumbum de bebê, que ajuda bastante a evitar as assaduras, quando não for
possível lavar com água e sabonete.
Sei que a decisão é muito difícil, mas
espero que com a minha história eu ajude você a tomar a sua decisão!!! E que ela seja a melhor,
independente de fazer ou não a reversão, pois às vezes a cirurgia pode não ter o
resultado que esperamos ou pode ter um resultado muito melhor do que o
esperado.
Boa sorte a todos que pretendem
fazer a reversão!!!