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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Complicações da ostomia


Christiane e Cláudia Yamada

Mesmo com técnicas cada vez mais avançadas, as complicações ainda podem ocorrer, e muitas vezes ocorrem em momentos difíceis para a adaptação do paciente com a sua nova condição.

As complicações das ostomias digestivas podem ocorrer imediatamente após a realização dos mesmos (precoces ou imediatas), ou algum tempo depois (tardias).

O reconhecimento precoce dos sinais e sintomas de uma complicação, e intervenções pontuais são cruciais para manutenção de uma ostomia viável e um bom resultado cirúrgico. A avaliação das complicações periostomais durante o período pós-operatório precoce são fundamentais para uma adaptação bem sucedida a uma nova situação.

A incidência de complicações nos pacientes com colostomia é cerca de metade em relação aos pacientes com ileostomia, e a irritação da pele periostomal é a complicação mais comum nas ileostomias, que ocorre devido ao vazamento de líquidos, geralmente ocasionado pelo mau ajuste da bolsa.

Vários fatores pré-operatórios e intra-operatórios podem contribuir para a ocorrência de complicações precoces pós-operatórias: o mau posicionamento da ostomia pode levar no pós-operatório a uma inevitável morbilidade, incluindo dor, inadaptação do sistema, irritação da pele periostomal, e perturbação da saúde psicológica; a cirurgia emergente frequentemente obriga a colocação de uma ostomia numa localização atípica, muitas vezes sem o benefício da cuidadosa marcação do local da ostomia sob a orientação de um enfermeiro estomoterapeuta; fatores técnicos também afetam o risco de complicações pós-operatórias imediatas. Por exemplo, a habilidade do cirurgião para mobilizar e traccionar o intestino através da parede abdominal influencia a maturação da ostomia. Outros fatores que influenciam o risco de complicações pós-operatórias incluem hipertensão intra-abdominal, a dependência de esteróides, e a mal nutrição.

Complicações precoces
As complicações precoces (ou imediatas) surgem no período intra-hospitalar e geralmente estão ligadas às cirurgias de emergência, nas quais frequentemente não há um planejamento prévio para a realização do ostomia ou ainda, são conseqüências de ostomia mal localizadas ou daquelas executadas por cirurgiões com pouca experiência.
As complicações que se destacam entre as precoces são: a isquemia, a necrose, o edema, a retração, o deslocamento mucocutâneo do ostoma, sepse periestoma e as dermatites.

Sangramento ou hemorragia
Esta complicação ocorre com mais freqüência no período pós-operatório imediato, podendo aparecer na borda da secção do intestino, cessando ao ser suturado.
A hemorragia pode decorrer, ainda, da doença de base que levou à realização do ostoma, ou em consequência do traumatismo local durante o manuseio do ostoma e pele periestoma.
É importante salientar também que o ostoma sangra com facilidade quando é tocado, fato este considerado normal visto que o intestino é muito vascularizado, mas a persistência da hemorragia deve ser comunicado ao médico.

Isquemia e necrose
A isquemia (normalmente ocorre dentro de 24 horas após a cirurgia) e a necrose (definida como a morte do tecido ostomal) caracterizam-se pela alteração da cor do ostoma (normalmente é rosa-escuro ou vermelho-vivo brilhante), resultante da circulação sanguínea deficiente, o ostoma apresenta-se de coloração pálida, evoluindo para um tom violáceo.

Edema
Edema é uma complicação comum, é ocasionada pela mobilização da alça e, pela passagem de um trajeto estreito da parede abdominal, ela pode se tornar imperceptível se a mobilização da alça for realizada de forma delicada e cuidadosa. Habitualmente desaparece ao fim de 2 a 3 semanas.

Deslocamento mucocutâneo
O deslocamento mucocutâneo é uma complicação pouco freqüente e ocorre nos ostomas terminais, caracteriza-se pela deiscência parcial ou total da linha de sutura que une o ostoma à pele da parede abdominal.

Sepse e periestoma
A sepse periestoma é a contaminação do tecido em torno do ostoma, pelo contato permanente ou não do conteúdo da luz intestinal com essa região. Ela se torna problemática quando ocorre o contato permanente da mucosa intestinal com o tecido subcutâneo ou mais profundo da parede abdominal, como por exemplo, nos casos de fístula periestoma.

Complicações tardias
As principais complicações tardias são: as retrações, a estenose e prolapso do ostoma, hérnia paraestomal e a disfunção do ostoma.

Retrações
É o afundamento do ostoma devido a uma excessiva tensão ou ao aumento do peso do paciente.
Esse tipo de complicação causa problemas relacionados ao cuidado do ostoma e pele periostoma, por causa da dificuldade para manter a aderência do sistema coletor. O uso de bolsa coletora de barreira convexa contribui na melhora da qualidade de vida desses pacientes.

Estenose
Estenose com insuficiência de drenagem de efluentes devido ao estreitamento da luz do ostoma, que pode ser devido a causas técnicas ou a recidiva da enfermidade causal. Entre as causas técnicas, a etiologia pode ser a complicação, como necrose, retração ou infecção.

Prolapso
O prolapso pode ocorrer tanto nas ostomias terminais como nas laterais e o segmento intestinal distal é o mais envolvido. Geralmente ocorre em casos de obesidade, aparece com freqüência maior nas colostomias em alça, e seu tamanho pode alcanças longitudes de até 20 cm.

Hérnia paraestomal
A hérnia paraestomal é a protusão de vísceras abdominais pelo trajeto do ostoma, as quais são contidas pelo tecido celular subcutâneo e pela pele, criando um abaulamento ao redor do ostoma. Ocorre mais nas colostomias do que nas ileostomias e a maioria surge nos primeiros dois anos após a cirurgia.
Os fatores que podem favorecer o aparecimento deste tipo de complicação são: fatores gerais, obesidade, aumento de pressão abdominal, envelhecimento e a vida sedentária com redução do tônus muscular.

Disfunção da ostomia
A síndrome de disfunção da ostomia é um conjunto de sinais e sintomas associados ao mau esvaziamento intestinal, que se instala no período pós-operatório mediato, causando dor, desconforto e distensão abdominal.

Fistulas periestomais
As fístulas periostomais aparecem frequentemente em ileostomias e como manifestação de recidiva da doença de Crohn.

Dermatites
A pele periostomal desempenha um papel importante no funcionamento de todo o sistema coletor, pois ela é a superfície à qual adere, e frequentemente as complicações da pele periostomal diminuem a capacidade das placas se anexarem à pele; assim sendo, a qualidade da pele periostomal é muito importante.

Muitas pessoas com uma ostomia experimentam afecções da pele periostomal. Estes problemas são comuns e podem afetar a qualidade de vida, e também podem influenciar a maneira como uma pessoa encara o fato de viver com uma ostomia.

A dermatite periestoma é a causa principal da perda da integridade da pele e pode ocorrer, com maior freqüência, na ileostomia ou colostomia direita.

A qualidade de vida de um doente é influenciada pelas afecções da pele periostomal, e muitos fatores podem contribuir para isso. Primeiro porque existe a dor originada pela própria afecção, a qual pode ser extrema, por exemplo, ao remover a barreira adesiva; segundo porque o aumento nos derrames de efluentes e a sua associação com o mau odor pode resultar num estigma ou embaraço com recusa e afastamento de atividades sociais. 

Finalmente porque o fardo econômico associado às despesas resultantes de consultas especializadas e sacos coletores, secundário às desordens da pele periostomal pode ter um impacto real no indivíduo e na sua qualidade de vida.

O tipo de ostomia e o contato do efluente com a pele são os maiores fatores de risco para as complicações dermatológicas. Os pacientes ileostomizados têm um risco maior de desenvolver complicações na pele periostomal do que os pacientes com uma colostomia.

A urostomia é uma ostomia úmida, isto é, expõe a pele circundante ao produto drenado, neste caso urina. Esta é agressiva para a pele porque a expõe a uma umidade constante e porque dependendo da composição química, a urina pode alterar o ambiente ácido da pele, rompendo o equilíbrio existente. A alcalinidade aumenta a capacidade irritativa da urina, alimentando um ciclo vicioso que termina numa maior frequência de complicações locais como as lesões irritativas dérmicas, ulcerações e estenoses das ostomias, com agravamento da qualidade de vida dos urostomizados.

As alterações mais observadas nessa área da pele são: o eritema ou irritação, a pústula e a úlcera e, dependendo do grau de comprometimento, a dermatite é considerada leve, moderada ou grave.
As dermatites periestomas podem ser classificadas em irritativas ou de contato, alérgica, por trauma mecânico e por infecção.

- Dermatite irritativa ou de contato
Este tipo de dermatite ocorre quando o fluido intestinal ou a urina fica em contato constante com a pele em torno da ostomia, principalmente nas ostomias situadas no plano da pele (raso), sem a adequada projeção do tubo intestinal na parede abdominal.
A dermatite irritativa de contato é uma das complicações mais comuns. Associada com outros fatores, pode desencadear um ciclo de agravamento progressivo de dano na pele, falência da aderência do saco coletor e extravasamento do conteúdo.

- Dermatite alérgica
A dermatie alérgica pode ser provocada por várias substâncias em pessoas sensibilizadas.
Essa sensibilização também pode ser desencadeada pelo uso de elemento do dispositivo, como a barreira adesiva ou plástica, e geralmente ocorre no final de poucos dias do primeiro contato ou após anos de contatos repetidos com o agente sensibilizante.
O uso de dispositivo adequado evita o aparecimento das dermatites.

- Dermatite por trauma mecânico
Este tipo de dermatite está relacionado ao cuidado da ostomia, que pode ser a remoção abrupta da bolsa coletora, a limpeza exagerada da pele e a troca freqüente da bolsa coletora.

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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Piquenique


Muitas vezes, ao se tornarem ostomizadas, as pessoas ficam com vergonha, e acabam se isolando e se excluindo dos grupos de amigos, deixando de ter uma vida social.


Porém, uma pessoa ostomizada não precisa viver trancada em casa, ela pode se divertir e continuar fazendo muitas atividades que realizava antes da cirurgia.


Não deixe que a ostomia se torne um problema na sua vida, aprenda a conviver com ela e tente aceitar a sua nova condição de pessoa ostomizada, você verá que é possível ser muito feliz e fazer muitas pessoas felizes.


Abaixo postamos umas fotos de um piquenique realizado por pessoas ostomizadas, ex-ostomizadas e amigos.