E-mail: ostomiasemfronteiras@yahoo.com.br

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Câncer de intestino


Câncer de intestino
Christiane e Cláudia Yamada

Ao se analisar a distribuição proporcional da ocorrência de casos de câncer na população brasileira, observa-se que o câncer do intestino grosso (cólon, reto e ânus), encontra-se entre os dez primeiros tipos de câncer mais incidentes e trata-se do mais frequente do aparelho digestivo. Além de estar afetando uma população cada vez mais jovem.

É o terceiro tipo de câncer mais comum, após o câncer de mama e pulmão nas mulheres e do câncer de próstata e pulmão nos homens, com exce­ção do câncer de pele.

Muitas vezes o câncer de cólon e reto se desenvolve sem sintomas que possam alertar os pacientes para um tratamento precoce; e como o diagnóstico do tumor do intestino geralmente é tardio, em alguns casos só é confirmado na cirurgia. Assim mesmo, são cânceres que uma vez detectados podem apresentar um bom índice de cura.

Seus sintomas podem estar ausentes ou ainda serem interpretados como pertencentes a vários outros quadros clínicos. Alguns sintomas ou sinais que podem denunciar a presença de tumores de cólon e reto: sangramento anal, eliminação de muco junto com as fezes, modificação do ritmo de evacuações, dores localizadas nos trajetos do intestino grosso, aumentos localizados no abdome.

Todos ou alguns desses sinais ou sintomas podem estar presentes, assim como o paciente também pode ser portador de um tumor sem que algum sinal ou sintoma seja constatado. Somente à medida que o tumor progride é que os sintomas tornam-se mais frequentes.

Seria conveniente que todo indivíduo que tivesse alguma dessas queixas procurasse o profissional da saúde para esclarecer a causa.

O câncer colorretal, também chamado de carcinoma, tem origem na camada interna do intestino grosso, a camada mucosa. O processo que leva à formação de um carcinoma pode levar vários anos. Antes da transformação em carcinoma, a maioria dos tumores se origina a partir de pequenas lesões chamadas pólipos adenomatosos. Esses pólipos, apesar de benignos, são considerados precursores dos carcinomas colorretais.

Tanto os pólipos como os carcinomas em fases iniciais costumam quase não causar sintomas. Nesse sentido, o rastreamento é fundamental, já que tem como principal objetivo detectar a doença em fase inicial, muitas vezes ainda antes da completa transformação em carcinoma invasor. Com isso as chances de cura se tornam muito mais elevadas.

A colonoscopia é o principal exame para o rastreamento do câncer colorretal. Consiste no estudo endoscópico do intestino grosso, ou seja, a introdução de uma câmera flexível pelo ânus. Durante a colonoscopia é possível detectar e remover, na maioria das vezes, os pólipos intestinais e encaminhar para a biópsia. Uma das maneiras mais eficazes de se evitar o aparecimento de câncer colorretal é a remoção dos pólipos por meio da colonoscopia.

O objetivo do rastreamento não é diagnosticar mais pólipos ou mais lesões planas, mas sim, diminuir a incidência e mortalidade por câncer do intestino. O exame colonoscópico é reservado a pacientes com pesquisa de sangue oculto nas fezes positiva (e a origem do sangramento não foi detectada pelo toque retal ou retossigmoidoscopia) e para população de risco moderado ou alto de desenvolvimento para câncer do intestino.

Existe uma parte da população chamada de "população de risco"; que são os indivíduos que tem ou tiveram familiares com tumores do aparelho digestivo ou, mais exatamente, do intestino grosso. Eles têm um risco três vezes maior de apresentarem a doença, pois o câncer de intestino geralmente esta associado a condições hereditárias, como a Polipose Adenomatose Familiar.

As chamadas doenças inflamatórias intestinais são raras em suas formas mais severas, mas também apresentam um risco elevado para a ocorrência do câncer colorretal, após alguns anos de evolução da doença. Estas doenças incluem a retocolite ulcerativa inespecífica e a doença de Crohn.

Os indivíduos com história pregressa de adenomas, câncer de mama, ovário, endométrio, portadores de colite ulcerativa e doença de Chron também apresentam um grande risco de desenvolver câncer de intestino.

Entre os fatores relacionados ao desenvolvimento do câncer de intestino encontra-se, principalmente, a idade (sendo a maioria dos casos diagnosticada após os 60 anos) assim como os hábitos de vida inadequados, como: dieta baseada em consumo excessivo de carne vermelha, rica em gorduras, alimentos com aditivos, conservantes e corantes, pobre em fontes de fibras (frutas e verduras), consumo exagerado de bebidas alcoólicas, falta de exercícios físicos regulares (sedentarismo), tabagismo, obesidade, doença inflamatória crônica do intestino (colite ulcerativa ou doença de Crohn).

Ter uma dieta balanceada, rica em frutas e verduras, praticar regularmente exercícios físicos e não fumar representam medidas de grande benefício para o controle da obesidade, de doenças cardiovasculares, e também do câncer, principalmente, quando iniciadas na juventude

As recomendações atuais para o rastreamento do câncer colorretal incluem todas as pessoas acima dos 50 anos de idade, independentemente de apresentarem sintomas. No entanto, pacientes mais jovens, com histórico familiar de câncer, também devem ser avaliados, a detecção precoce deste câncer, é curado em mais de 70% quando tratado em fase inicial.

O tratamento depende principalmente do tamanho, localização e extensão do tumor e da saúde geral do paciente. Os pacientes são freqüentemente tratados por uma equipe multidisciplinar de especialistas, que poderá ser formada por um gastroenterologista, um cirurgião, um oncologista clínico e um oncologista radioterapeuta. Variados tipos de tratamentos são utilizados sendo que algumas vezes há a combinação de uma ou mais formas de tratamento.

A cirurgia é necessária em praticamente todos os casos e pode ser a única forma de tratamento, nas fases muito iniciais, porém, nem sempre é a primeira forma de tratamento. A sequência correta é baseada na localização do tumor e no estadiamento e deve ser muito bem planejada por uma equipe experiente. A cirurgia se baseia na remoção do segmento acometido do intestino grosso, com margens de segurança adequadas.

Em muitos casos de tumores do reto, pode ser necessária a realização de uma colostomia ou ileostomia. Isso significa a exteriorização (“colocar para fora”) do intestino na parede abdominal para saída de fezes. Na grande maioria das vezes, a colostomia ou a ileostomia são provisórias, mas às vezes pode ser definitiva. A necessidade desse procedimento depende de vários fatores, sendo o principal deles a proximidade do tumor em relação ao ânus.

Avanços nas técnicas cirúrgicas, assim como na radioterapia e na quimioterapia, têm permitido a ampliação das possibilidades de preservação da função evacuatória por via anal. O câncer de cólon e reto é uma das várias razões que leva a confecção de um ostoma.

Já os avanços no tratamento combinado, incluindo quimioterapia e radioterapia, permitem ampliar a indicação da abordagem curativa, mesmo em casos avançados da doença.

O cuidado no acompanhamento após o tratamento do câncer colorretal é importante para assegurar que as alterações de saúde sejam relatadas e para o diagnóstico precoce e tratamento adequado de recidivas ou novos tumores. As avaliações poderão incluir, além do exame físico: colonoscopia, raio-X de tórax, testes laboratoriais e exames radiológicos como ultra-sonografia e tomografia.

O câncer é uma doença que geralmente causa aos indivíduos várias limitações, seja pela doença ou pelo tratamento. Essas limitações associadas à idade podem atingir proporções difíceis de serem contornadas, gerando muitas vezes incapacidade com um grau de dependência total.

O suporte emocional é extremamente importante para promover melhor qualidade de vida dos doentes.

No Brasil, com o aumento da expectativa de vida da população, as neoplasias vêm ganhando cada vez mais importância no perfil de morbidade e mortalidade.

Referências:

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and rationale – Update based on new evidence. Gastroenterolgy 2003;124:544-560.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Falando sobre câncer do intestino / Instituto Nacional de Câncer, Sociedade Brasileira de Coloproctologia, Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn, Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, Sociedade Brasileira de Cancerologia, Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. - Rio de Janeiro: INCA, 2003.

COLDITZ, G. et al. Harvard Report on Cancer Prevention. Volume 1. Causes of Human Cancer. Cancer Causes Control
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DANI, R. Gastroenterologia essencial. 2a edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 1205.

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MINISTÉRIO DA SAÚDE 2003Falando sobre o câncer do intestino Disponível em < http://www.inca.gov.br/publicações. Acesso em 02 de abril de 2004

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ROSSI BM, PINHO M. Tumores colorretais hereditários. In: Rossi BM, Pinho M, editors. Genética e biologia molecular para o cirurgião. São Paulo: Lemar; 1999. p.173-200.

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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Depoimento de Meiry Andrade Oliveira

Acompanhe o emocionante depoimento de Meiry Andrade Oliveira, que apesar de toda dificuldade, nunca desistiu e continua lutando até hoje. Uma verdadeira guerreira e vitoriosa.


Sou Meiry, tenho 43 anos, e em outubro de 2000, tive diagnostico médico: câncer de reto. Perdi o chão, o mundo desabava sobre mim,....... Feito 64 seções de radioterapia+ químio para regredir o tumor, 10 de janeiro de 2001 a primeira cirurgia, muitas complicações e sofrimentos levavam-me a uma batalha travada entre a vida e a morte. Não perdia as esperanças a cada ida e vinda de hospitais.
Em julho do mesmo ano outra batalha. Fui para São Paulo ao HC, já com forte hemorragia, sobrevivendo apenas com 2,3 de sangue no organismo, tendo convulsões + parada do rim direito. Relatar do médico: levem-na para a Bahia, pois a certeza só de uns 15 dias de vida. Mesmo debilitada, falei vou sim e minha história não vai ser resumida nestes 15 dias e sim há muitos anos, pois sei que a palavra final não é de vocês e sim de um Deus que eu acredito que tudo pode!!!
Desembarquei no Aeroporto de Salvador no dia seguinte, lá minha família me aguardava, fui as pressas para o hospital levada diretamente para UTI feita transfusão com 12 bolsas de sangue diagnostico: Cistite Actínica Crônica na bexiga, sequelas da rádio. Foram 2 meses internada em tratamento com cauterização + Hiperbárica!
Ano de 2002, em decorrência de muitas fístulas na bexiga, a urina espalhou-se no abdômen, com fortes dores estava eu mais uma vez num centro cirúrgico. Fiquei 3 meses em uso de um Duplo J, um cateter foi introduzido entre a coluna para medicação onde eu ficava anestesiada pelo motivo das fortes dores.
Bem, pela misericórdia de Deus venci mais uma vez!!! Passei a fazer exames de controle, Janeiro de 2009 fui pega mais uma vez com sintomas de fortes diarréias, febre de 39 graus, perda de peso.........Fui internada outra vez, muitos exames, UTI, Semi Intensiva nem lembro quantas vezes, 3 meses se passaram dentro de um hospital até que descobriram que a diarréia era por motivo de mais fístulas na bexiga, na qual a urina passou a misturar-se com as fezes daí um quadro muito grande de infecção onde fui submetida a outra cirurgia para retirada da bexiga, 9 horas num centro cirúrgico com uma equipe médica. Vim ter noção do acontecido depois de 5 dias.
Estava eu urostomizada, passando a usar bolsa coletora de Urina !!! Foi um baque, pois não tinha noção nem conhecimento como aprender a viver com aquela situação ( leiga de tudo) Mas graças a Deus, ergui a cabeça e falei : Vou vencer e superar tudo isso!!! Outubro de 2011 outra cirurgia para correção de 3 hérnias incisional no abdômen. Exames já prontos, muita fé, coragem, apoio da minha família e amigos, já estou partindo para outra onde tem que ser feita um melhor posicionamento do estoma + correção de hérnia paraestomal.
Tenho 3 filhos, o primogênito ao completar 20 anos foi diagnosticado com um tumor de reto tbm, fez cirurgia + biópsia. Pela misericórdia de Deus foi a tempo do pior não ter acontecido, hoje aos 23 faz exames de controle assim como eu.
Dentre todos os acontecimentos este foi só um resumo do longo destes 12 anos de lutas, levo uma vida quase que normal, rsssssssss, Tenho Uma experiência de vida onde a doença não deteve meus limites, Minha Fé, Coragem, Perseverança e acima de tudo meu Agradecimento a um Deus maravilhoso pela chance de estar viva,....... faço parte da ABO (Associação Baiana dos Ostomizados), Para quem tinha apenas 15 dias de vida, rssssssssssss. Cheguei aos 43 anos, espero ainda +++.....se assim for da vontade do Pai. Muito obrigada pelo espaço criado. Deus abençoe a todos
Forte abraço

Gazeta do Povo publica matéria com presidente da Associação Paranaense dos Ostomizados (APO)

 
   Gazeta do Povo publica matéria com presidente da Associação Paranaense dos Ostomizados (APO)
  Luiza Helena Ferreira Silveira falou sobre a superação da ostomia a um dos maiores veículos impressos do estado do Paraná. Confira a matéria na íntegra:


  Bolsas que conseguem devolver a vida
 Dâmaris Thomazini


Nos tempos em que se dedicava às atividades de artesã, com as mãos ocupadas entre as agulhas e linhas de bordado, há 12 anos, Luiza Helena Ferreira Silveira, sabia vagamente o que eram pessoas ostomizadas. Mas a luta contra um câncer fez com que ela se aproximasse desta deficiência e vivesse na pele essa realidade.
Os ostomizados são pacientes que passaram por uma cirurgia para a abertura de um orifício (ostoma) no corpo. Esta passagem – de aparência vermelho-vivo como a mucosa da boca – comunica o interior do organismo com o exterior para entrada de ar e de alimentos ou para eliminação de necessidades fisiológicas.
Diagnosticada com câncer no reto aos 44 anos e com risco de a doença se espalhar para os pulmões e o fígado, a artesã foi amputada e perdeu o reto e o sigmóide – parte que liga o intestino grosso ao reto. Desde então, ela passou a conviver com a condição de colostomizada e utiliza a todo o momento uma bolsa que armazena os dejetos do organismo.
O preconceito é o principal problema para os ostomizados, segundo Luiza Helena. “Temos histórias de familiares que discriminam o ostomizado. As pessoas acham que manipulamos os próprios dejetos, o que não é  verdade”, diz, lembrando que ninguém está livre de ser portador desta deficiência.
Na época do câncer, sua maior motivação para vencer os desafios de ser portadora de ostomia era poder ver a chegada de seu terceiro neto. “Fiz um pacto com Deus para que Ele, pelo menos, permitisse que eu conhecesse meu neto, nascido depois da cirurgia”, conta Luiza, que é mãe de quatro filhos e avó de cinco netos. “Usar a bolsa para sempre não era o que mais me preocupava: eu queria me curar do câncer e ter chances de viver mais tempo. Nessa situação, você prefere usar uma bolsa a morrer.”
Para viver melhor com a ostomia, Luiza precisou alterar alguns hábitos, principalmente em sua dieta. “Passei a consumir alimentos que prendem o intestino para não passar por situações desagradáveis”, explica ela. 

Pessoas nesta situação não têm controle sobre o esfíncter – músculo capaz de controlar a eliminação das necessidades fisiológicas. Assim, o intestino e o sistema urinário funcionam independentes da sua vontade.

Hoje, aos 56 anos, ela ainda se dedica ao bordado, mas divide o tempo com as responsabilidades da presidência da Associação Paranaense de Ostomizados (APO) – instituição que há 21 anos apoia os portadores desta deficiência. “É gratificante ajudar as pessoas a perceberem que elas podem viver melhor mesmo com a ostomia. Esta é uma deficiência não aparente. Se não revelarmos, ninguém sabe que somos ostomizados”, afirma ela.
Bê-á-bá
Abertura 
Estoma ou ostoma é um orifício criado por meio de uma cirurgia. Ele comunica a parte interna do corpo com o exterior. Pode ser definitivo ou temporário. A pessoa pode ser ostomizada devido ao câncer, inflamações, má formação dos órgãos ou traumatismos por arma de fogo ou arma branca.

Colostomia 
Comunicação do intestino grosso para eliminação das fezes.
Ileostomia 
Comunicação do intestino delgado para eliminação das fezes.
Urostomia 
Criação de trajeto alternativo para eliminação da urina.
Gastrostomia 
Comunicação do estômago com uma sonda, que facilita a nutrição e a administração de líquidos.
Traqueostomia 
Abertura na traqueia para facilitar a respiração.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Ostomia na terceira idade


Christiane e Cláudia Yamada

Ser idoso, não é ter somente limites, mas aprender a conviver com esses limites, e mesmo tendo a idade avançada e apresentando as características da velhice, tentar ser ativo e participativo.

O surgimento de algumas alterações funcionais ou estruturais pode representar para os idosos uma ameaça ao seu bem-estar e a sua auto-estima, refletindo diariamente no seu convívio consigo e com a sociedade.

Em algumas situações do envelhecer, as alterações fisiológicas podem unir-se a algumas doenças e acarretar o surgimento de processos cirúrgicos, como por exemplo, as cirurgias intestinais ou urinárias, que dão início a um processo de vida diferente pelo uso da bolsa coletora de fezes ou urina, direcionando o idoso a uma constante adaptação.

A maioria dos indivíduos, após a realização da ostomia, vivencia os estágios emocionais de negação, ira, barganha, depressão e aceitação. O pessimismo também se faz parte, devido aos sentimentos de baixo auto-estima e desânimo diante das dificuldades.

A estomização pode trazer incerteza à pessoa idosa, por conta das mudanças que ocorrem em seu corpo e das novas responsabilidades que surgem com a ostomia. Os pacientes idosos geralmente necessitam de auxílio para manusear o equipamento e de estímulo para realizar a limpeza da pele periostomal, devido ao grau de diminuição da visão, dificuldade auditiva e a dificuldade com habilidades que requeiram coordenação motora.

Alguns idosos têm uma percepção negativa de si, por se visualizarem como pessoas incapacitadas e, assim, podem não se aceitar como ostomizado, pois ele acha que não poderá participar ativamente das atividades sociais e, com isso, se sente inválido e dependente do outro, e acabam preferindo a morte à ostomia.

Além de, muitas vezes, ele mesmo se sentir no final de sua caminhada, sem esperança para viver ou ser feliz. Visto sob esse aspecto, o idoso ostomizado necessita de serviços de saúde especializados, que forneçam informação, suporte técnico e emocional adequados, por isso, é importante informar-lhes sobre a existência de um serviço de estometerapia.

A não-aceitação, por parte do idoso ostomizado da sua condição de saúde, pode levar, à negação dos problemas e à rejeição do tratamento, muitas vezes, pelo constrangimento imposto por sua situação, ou por possíveis complicações, resultando em um agravo que poderá se tornar irreversível. Cabe ao profissional de saúde esforçar-se para fazer com que essas pessoas tenham a devida adesão ao tratamento e que essa visão distorcida seja transformada.

É necessário proporcionar ao idoso ostomizado, novas formas de adaptação; mostrando a sua importância como cidadão, que ele pode ser ativo e detentor de uma grande experiência de vida e que esta vida após a cirurgia não acaba, apenas recomeça uma nova, com outros desafios que, se aprendidos, deixam de ser desafios.

É preciso ajudá-lo a não se sentir o único, a buscar apoio nas pessoas que passaram pela mesma situação, para adaptar-se ao seu novo estado. Estimulá-lo à participação em grupos, que proporcionem a oportunidade da discussão, da troca de experiências e o direcionem a uma vida mais feliz e mais plena.

A participação do idoso nos grupos de apoio torna-se necessária, pois serve de abertura à discussão e o reconhecimento de seu espaço na sociedade, ajudando-o a adquirir autonomia para transformar sua realidade. Além de contribuir na promoção, na proteção e no controle das situações estressantes causadas pela doença, originando um espaço complementar de troca de informações e de estimulo social.

O idoso ostomizado, que participa de um grupo, poderá ser capaz de tornar-se agente de seu cuidado, passando a se autocuidar com mais segurança.

Nesse momento, o apoio da família é muito importante no processo de adaptação ao estoma e à nova vida, auxiliando no cuidado específico, porém, quando os idosos se submetem à realização de uma ostomização, muitas vezes os seus familiares não aceitam a situação e ficam com medo no cuidado do estoma. Na ausência de um familiar, é importante que uma pessoa de confiança do paciente esteja presente durante o processo do cuidado.

Cuidar do idoso ostomizado, com suas limitações, significa estimulá-lo ao autocuidado, à autodeterminação e a sua independência frente às escolhas que necessita realizar junto à sociedade e sua família. Além de compreender as suas limitações, e possibilitar a reintegração social, permitindo-lhe uma melhor aceitação da sua nova imagem corporal e melhor entendimento da nova situação.

A reabilitação do ostomizado visa a restituir-lhe as atividades de convívio social e melhorar sua qualidade de vida diante do impacto da aquisição do estoma. Esse momento caracteriza-se por uma primeira etapa, na qual transcorre a aceitação do estoma pelo idoso e, com isso, ele necessita entender que o estoma foi confeccionado com o intuito de preservar sua saúde.

 Uma estratégia de reabilitação para o idoso ostomizado, é fazê-lo perceber que não está sozinho e compartilhar as experiências e as transformações em suas vidas; e uma outra alternativa é estimular a mudança de atitude e reinserção dele no meio familiar e social.

Ensinar a conviver com a ostomia é um processo multidimensional, abrangendo não só os idosos, mas sua família, sem contar a necessidade de estimular diariamente à promoção de qualidade de vida.

Muitas vezes, o idoso ostomizado apresenta dificuldades no manuseio dos acessórios de cuidado com estoma, seja por déficit motor, seja por receio ou por compreender a estomização como uma etapa complicada ou complexa em sua vida, por isso, é importante a presença de um familiar ou amigo para auxiliá-lo no cuidado ou na manutenção de sua autonomia.

Muitos idosos, apesar de realizarem suas atividades diárias sem necessitar de auxílio, apresentam dependência no cuidado com as ostomias. Isso pode ser por causa da família ou do próprio idoso em acreditar que um idoso doente se torna incapaz ou não é apto para realizar seu cuidado, e o cuidado superprotetor pode torná-lo cada vez mais dependente. É importante lembrar que é necessário um determinado tempo para que os idosos se adaptem com os cuidados e com a ostomia.

Os cuidados empregados com a bolsa e com a pele peri-estomal são importantes, pois os produtos usados na manutenção da ostomia e a prevenção das complicações auxiliam na qualidade de vida do idoso ostomizado. Devido às mudanças que ocorrem com o avançar da idade, a pele e o tecido subcutâneo tornam-se finos, e a pele se irrita com mais facilidade, gerando uma maior preocupação quanto ao cuidado com a pele no idoso ostomizado.

As dificuldades do ostomizado idoso e seus familiares para continuidade do cuidado após a alta hospitalar, ocorrem em todos os aspectos, sejam físicos, emocionais ou sociais, tanto da sua vida como da família. Por isso, é importante que uma pessoa capacitada, no caso o enfermeiro, de orientações sobre: o processo de adaptação e uso da bolsa coletora, o cuidado com a ostomia e com a alimentação adequada, além de encaminhá-lo e estimulá-lo a participar de um grupo de apoio, que possa ajudar os ostomizados a conviverem com esta nova situação.

O ostomizado precisa adaptar-se a essa nova situação em busca da harmonia e da restauração das suas forças, pois a diminuição da autoestima faz com que alguns ostomizados retraiam-se e busquem o isolamento como forma de autodefesa, provocando alterações de ordem física, psicológica, social e espiritual, além de alterações na sua imagem corporal, fazendo com que eles necessitem de cuidados específicos para conseguirem sua reinserção social.

Os processos de auto-estioma, autocuidado e auto-organização são possíveis, quando o idoso ostomizado identifica sua posição de importância junto aos demais ostomizados e sua família, e quando ele se sente acolhido e mais seguro para desempenhar os cuidados aprendidos.

A aceitação do estoma pelo idoso, apesar da falta de conhecimento e medo inicial, surge do convívio com outros ostomizados, do incentivo recebido pelo serviço de estomaterapia e da presença dos familiares e amigos, ajudando-os no enfrentamento.

Referências

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BAREG,G. B.; SMELTZER, C. S. Brunner & suddarth tratado de: enfermagem médico-cirúrgica. 8ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. p.980

BARROS, E. J. L. O ser idoso estomizado sob o olhar complexo: uma proposta de gerontotecnologia educativa/Edaiane Joana Lima Barros – Rio Grande: FURG/PPGENF, 2007. 136p.

BECHARA, R. N; et Al.Abordagem Multidisciplinar do Estomizado. Revista Brasileira Coloproct. [S.l]. v.25,n.2, p.146-149. 2005.

DUARTE, O. A. Y.; DIOGO, D. J. M. Atendimento domiciliar: um enfoque gerontológico.  São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte: Atheneu, 2000. p.630.

GARCIA, M. A. A. et Al. Atenção à saúde em grupos sob as perspectiva dos idosos. Revista Latino Americana de Enfermagem, v.14, n.2, p.175-82, mar/abr, 2006.

GOMES, G. C.; FARIAS, D. H. R.; ZARPAS, S. Convivendo com uma ostomia: conhecendo para melhor cuidar. Revista Cogitare Enfermagem. [S. l]. v.9, n.1. p. 25 – 32, 2004.

LEUCKENOTTE, A. A Avaliação em gerontologia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso editores, 2002. p. 385

PETRAGIL, I. A complexidade do sujeito que envelhece (Prefácio). In: O ensino da enfermagem gerontogeriátrica no Brasil de 1991 a 2000 à luz de complexidade de Edgar Morin. SANTOS. S. S. C. Florianópolis: USFC/PEN, 2003. 200 p. Série teses, 44.

SANTOS, S. S. C. O ensino da enfermagem gerontogeriátrica no Brasil de 1991 a 2000 à luz de complexidade de Edgar Morin. Florianópolis: USFC/PEN, 2003. 200 p. Série teses, 44

SILVA, A. L. da; SHIMIZU, H. E. O significado da mudança no modo de vida da pessoa com estomia intestinal definitiva. Revista Latino Americana de Enfermagem, v. 14, n.4, p. 483-90, jul-ago/2006.

SILVA, Maria José Maciel. Avaliando o grau de dependência do idoso ostomizado/ Maria José Maciel Silva. Curitiba, 2004. 87p


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Depoimento de Sandra Martins

Acompanhem a linda história de luta e superação de Sandra Martins, uma mulher ostomizada, que engravidou, mesmo ouvindo de vários médicos que não poderia engravidar, e deu a luz a um lindo menino, o Samuel!
Eu nasci com uma deficiência e tive que passar por varias cirurgias para poder reparar, mas sem sucesso, tive que ficar com a colostomia definitiva. Passei por varias adaptações, não conseguia olhar para ostoma porque tinha repulsa, por isso passei por vários psicologos, para poder me conformas e me adaptar com a colostomia, que naquele tempo não era tão divulgado como hoje. Além disso, não existia bolsa coletora, por isso minha mãe comprava saquinhos de festa em uma fabrica e fazia o buraquinho da ostoma!!rssss e assim fui crescendo, estudei me formei sou formada em técnica de enfermagem, casei e tive meu primeiro e único filho.
Os medicos diziam que eu não poderia engravidar, mas quem dá a ultima palavra é o senhor. Passei por vários especialista mas todos me diziam a mesma coisa!!! Porém, eu perseverei e fui a luta. Pedi a Deus que me desse um filho e ele me deu (confundiu ate os médicos, quem dá a ultima palavra não é o homem  e sim DEUS).
A minha gestação foi tranquila sem problemas graças a deus, mas a minha medica resolveu me colocar de licença porque onde eu trabalhava tinha que subir uma ladeira e eu não podia fazer esforço fisico, porque nós ostomizados podemos ter um prolapso, ou seja, a colostomia soltar para fora, e para agravar eu tinha útero bicorno, que facilitava um aborto. Então entrei de licença auxilio doença com 5 meses de gestação. 
Já, o parto foi superrrrr complicado mas Deus estava com a mão posta sobre mim. Os médicos queriam que eu tivesse parto normal, mas eu tinha muito medo porque teria que fazer força e poderia haver um prolapso. E eles tinham medo de fazer cesárea e encontrar aderencias pelas cirurgias feitas que foram 16. Porém, o Samuel sentou com 8 meses e a cesárea foi inevitavel. A cesárea já estava marcada, porém a minha bolsa estourou em casa. E aí começaram as complicações, a anestesia não pegava de jeito nenhum e tiveram que colocar um dreno. Depois disso comecei a ter falta de ar, quando abriram a minha barriga estava tendo uma parada cardio respiratoria. Então fui entubada e não vi samuel nascer. Acordei com os médicos me espetando, acho que com muitas anestesias eles tiveram medo de ter lesionado minha coluna. Depois disso tive uma hemorragia severa e tive que tomar sangue. Por fim consegui ver o rostinho do meu filho!!! Fiquei 15 dias internada. E tudo isso que passei valeu a pena quando vi meu filho, e sabia que nada de mal me aconteceria porque quem tomava conta de mim e dele era o maior e soberano de todos o rei dos reis Jesus Cristo de Nazare.